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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO RÍCINO DE PORTUGAL 217<br />

e medo com as vozes, e visinhança do ma<strong>de</strong>iro, que vinha correndo, como<br />

<strong>de</strong>spedido <strong>de</strong> hum trabuco. Senão quando entra pela ponte hum<br />

<strong>Fr</strong>adinho velho <strong>de</strong> capa negra, e habito branco, encostado sobre hum caja-<br />

do, e subindo ligeiramente sobre o parapeito da ponte, esten<strong>de</strong>o o braço<br />

eo cajado contra o rio, e no mesmo ponto se vio endireitar o ma<strong>de</strong>iro, e<br />

enfiando com a vea d'agoa embocar o arco, e sahir da outra parte, como<br />

se fora atoado. Ficando pasmados do feito, mais o ficarão, quando virão,<br />

que o <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong> caminhara contra a Ermida, e nella se recolhera. Não ha-<br />

via por então <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s na terra. Quizerão ver, quem lhes fizera tamanho<br />

bem, e mostrar-se agra<strong>de</strong>cidos: forão-se á Ermida. Aqui foi novo pasmo;<br />

porque na Ermida não havia cousa viva: e assim ficarão assentando, que<br />

o Santo fora o que a seus brados, e á sua ponte acudira visivelmente.<br />

Este milagre he muito antigo, venhamos a tempo mais mo<strong>de</strong>rnos.<br />

Pregava o Mestre <strong>Fr</strong>ei Ayres Corrêa na entrada do anno <strong>de</strong> 1588 na er-<br />

mida <strong>de</strong> Nossa Senhora da Oliveira na festa do Santo. Chovia muito.<br />

Acudio ao cano da rua Nova, que fica <strong>de</strong>fronte da ermida, e da sua fonte,<br />

e chafariz, gran<strong>de</strong> força <strong>de</strong> agoas, que por elle vazão para o mar. Era<br />

tão crescida a enchente, que arrebatou hum minino <strong>de</strong> huma porta, e<br />

sem lhe po<strong>de</strong>rem valer, o levou comsigo pelo cano <strong>de</strong>ntro: acudio alguma<br />

gente piadosa á praia, ao sitio on<strong>de</strong> <strong>de</strong>semboca, por baixo das ca-<br />

sas, e do Terreiro do Paço, que he gran<strong>de</strong> distancia, para sequer lhe<br />

fazerem ultimo officio <strong>de</strong> sepultura, se o achassem, Chegão, achao o in-<br />

nocentinho são, alegre, e risonho, assentado na borda d*agoa, e dizen-<br />

do, que nossa Senhora, e hum <strong>Fr</strong>adinho <strong>de</strong> hum bordão, forão com elle<br />

por baixo da terra até a praia. Trazido com festa á ermida, gritou di-<br />

zendo, que aquelle <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong> do retabolo fora o que o acompanhara. Esta<br />

foi a pintura do glorioso São Gonsalo. Prégou-se logo o milagre, e jus-<br />

tiíicou-se <strong>de</strong>pois em forma jurídica.<br />

Mais mo<strong>de</strong>rno, e <strong>de</strong> mais qualida<strong>de</strong> he, o que agora diremos. Era<br />

Prior do Convento dWmarante o Padre <strong>Fr</strong>ei Fernando <strong>de</strong> Castro, neto<br />

do gran<strong>de</strong>, e valeroso Governador da índia Dom João <strong>de</strong> Castro, quando<br />

hum dia entrou por elle o Corregedor da Comarca, cercado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

numero <strong>de</strong> Clérigos, e dizendo, que sua vinda era a fazer cantar huma<br />

solemne Missa <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, e mandado d'el-Rei Dom Philippe I d'este<br />

Reino, e II dos <strong>de</strong> Castella, em graças <strong>de</strong> certo beneficio, que Sua Ma-<br />

gesta<strong>de</strong> recebera por intercessão do Santo, que teve principio, e origem<br />

do que agora diremos. Or<strong>de</strong>nou o Prior em cena occasião fazer huma

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