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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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de envelhecimento, de declínio da beleza física, o que gera um<br />

problema cultural, pois, na sociedade brasileira contemporânea,<br />

predomina uma cultura baseada na eternização da juventude. De<br />

fato, salienta Brownmiller, as cobranças sociais em torno da aparência<br />

jovem são gendradas, ou seja, “a mulher com aparência<br />

envelhecida tem menos ‘capital simbólico’ no mercado afetivo/<br />

sexual do que o homem em semelhantes circunstâncias”. (apud<br />

SARDENBERG, 2002, p. 64)<br />

Nesse sentido, afirma Indira, incomoda muito, porque a chamada<br />

meia-idade não só exclui quem deseja se casar do mercado<br />

matrimonial como também se torna um impeditivo para a vivência<br />

afetivo-sexual de mulheres como ela, que optaram por permanecer<br />

solteiras: − Aos cinquenta anos, eu notei que os homens<br />

não olham mais. A mulher deixa de ser desejável, porque não<br />

mais se enquadra nos modelos socialmente erigidos para a estética<br />

feminina e, por isso, a perspectiva do envelhecimento a assombra<br />

e o medo e a vergonha de se expor ao ridículo e à censura social<br />

tolhem a expressão do desejo.<br />

Além disso, o avanço da idade não impede que o homem conquiste<br />

parceiras mais novas, pois, em nossa sociedade, os valores<br />

patriarcais ainda determinam como prerrogativa masculina a<br />

iniciativa no jogo erótico, em que o homem escolhe as mulheres<br />

enquanto permanecem atraentes. Daí porque, para a mulher mais<br />

velha que se sente atraída por homens mais jovens, a possibilidade<br />

de um romance, mesmo efêmero, reafirma a legitimidade social<br />

atribuída ao homem e negada à mulher como sujeito do desejo.<br />

Indira, mesmo consciente da ausência de afetividade no relacionamento,<br />

não consegue proteger sua autoestima e amor próprio,<br />

ao constatar que o parceiro mais jovem não a enxerga sequer<br />

como objeto de prazer, pois é reduzida a um corpo que o amante<br />

usa e descarta quando perde a utilidade. Em outras palavras, Indira<br />

não concebe o sexo dissociado da afetividade, ou seja, o prazer<br />

Gênero, mulheres e feminismos 105

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