02.09.2015 Views

GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

alinne-bonneti-e-c3a2ngela-maria-freire-de-lima-e-souza-org-gc3aanero-mulheres-e-feminismos

alinne-bonneti-e-c3a2ngela-maria-freire-de-lima-e-souza-org-gc3aanero-mulheres-e-feminismos

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

everenciada como a “embaixatriz da beleza”, a futura “senhora<br />

Paulo Martins” circula com aparente desembaraço no mundo do<br />

transe, na sua emblemática mudez. A outra, Sara, que se autodescreve<br />

como uma mulher que foi “lançada no coração do seu<br />

tempo”, tem o respeito de todos, inclusive, na visão do então candidato<br />

Vieira, é a “professora eficiente que veio dar vida a Alecrim”.<br />

Já em 1965, em entrevista à Revista Civilização Brasileira,<br />

instado a falar sobre o lugar dos personagens femininos nos seus<br />

filmes, Glauber confessa: “Eu acho que mulher é coisa que não se<br />

entende racionalmente. Por isso eu quis dar àquela mulher, todas<br />

as contradições da alma feminina”. 2 Assim, é impossível não<br />

relacionar essa fala do cineasta com as teorias freudianas quando o<br />

criador da Psicanálise remete ao poeta a decifração da alma feminina.<br />

Essa recusa também é observada pela psicanalista Beth Fuks<br />

(1993) que diz:<br />

[...] ao remeter a problemática feminina ao campo da arte, Freud<br />

não só problematiza as suas próprias construções teóricas, até<br />

então a respeito do tema, como nos dá indicações da inviabilidade<br />

de lhe fornecer uma resposta definitiva e categórica [...] a<br />

mulher é um continente negro [...] porque ausente no imaginário<br />

e no simbólico ele terá de ser construído ininterruptamente<br />

e desmoronado imediatamente. [...] Um vazio, um sintoma,<br />

um sempre desejo do outro: o masculino que o preenche com as<br />

fantasias calcadas nas suas próprias referências.<br />

O cineasta e o pai da Psicanálise acabam por se encontrar, no<br />

que diz respeito ao entendimento do ser mulher ou à representação<br />

destas. Em 1967, por exemplo, quando instado a falar à revista<br />

Positif sobre as suas personagens, Glauber Rocha diz:<br />

[...] eu tenho muita dificuldade de trabalhar os personagens femininos.<br />

Escrevi muitos roteiros que não foram filmados. Nos<br />

2 Referindo-se a Rosa um dos seus personagens em Deus e o Diabo na Terra do Sol.<br />

324<br />

Gênero, mulheres e feminismos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!