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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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políticos conservadores como Diaz são os que mais a acolhem e,<br />

aparentemente, ela seria um deles. No entanto, a isso se contrapõe<br />

o fato de que Paulo Martins, que também faz o mesmo percurso<br />

de Silvia, em nenhum momento ter tido abalada a sua condição<br />

de herói na trama. O mesmo acontece com Sara que, em nenhum<br />

momento, tem ameaçada a sua condição de modelo exemplar,<br />

mesmo comungando das políticas populistas de Vieira que se utiliza<br />

do aparato repressivo para liquidar o povo que reivindica sua<br />

cidadania.<br />

Tal problematização nos aponta para a suspeita da existência<br />

de um certo moralismo seja do autor, na sua fala sobre as personagens<br />

femininas, assim como dos seus intérpretes visitados por<br />

esse texto. Um moralismo que parece embotar as suas percepções<br />

em relação a várias ações da personagem, a exemplo da autonomia<br />

sobre o seu corpo, sua liberdade sexual sem qualquer insinuação<br />

de vulgaridade, em um contexto completamente adverso.<br />

Em verdade há uma grande tensão em relação a Silvia, a “personagem<br />

muda”, naquele filme totalmente conduzido pelo verbo.<br />

Na nossa compreensão, o que provoca desconforto, agressão, depreciação<br />

da personagem são ações, marcas sutis que já insinuam<br />

a independência da mulher em relação ao seu corpo e ao direito de<br />

contrariar expectativas, o silêncio, seu maior emblema, que contraria<br />

o dizer popular de que “mulher fala muito” e faz insuportável<br />

a sua permanência enquanto enigma que foge ao controle.<br />

Eni Orlandi, no seu interessante trabalho sobre os sentidos do<br />

silêncio, observa, com grande perspicácia, que:<br />

o nosso imaginário social destinou um lugar subalterno para<br />

o silêncio. Há uma ideologia da comunicação, do apagamento<br />

do silêncio, muito pronunciada nas sociedades contemporâneas.<br />

Isto se expressa pela urgência do dizer e pela multidão de<br />

linguagens a que estamos submetidos no cotidiano. Ao mesmo<br />

tempo, espera-se que se esteja produzindo signos visíveis<br />

(audíveis) o tempo todo. Ilusão de controle pelo que ‘aparece’:<br />

336<br />

Gênero, mulheres e feminismos

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