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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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podiam, e que as mulheres podiam e deviam estudar medicina”.<br />

(HAHNER, 2003, p. 149)<br />

A verbalização de ideias baseadas nas teorias da Complementaridade,<br />

do Útero e do Evolucionismo, na Bahia, a exemplo do<br />

que ocorreu em outras partes do Brasil, não se circunscreveu<br />

apenas à segunda metade dos oitocentos; ela se fez presente nas<br />

primeiras décadas dos novecentos revelando que “a idéia de inferioridade<br />

feminina foi compartilhada por boa parte dos médicos<br />

da Faculdade de Medicina da Bahia, influenciados pelos trabalhos<br />

de Spencer e Proudhon; autores que atribuíam uma elevada dignidade<br />

à maternidade”. (RAGO, 2005a, p. 8)<br />

Como exemplo de tal fato, trago a cena às sessões de 1º e 15 de<br />

agosto de 1937, da Sociedade de Medicina de Itabuna, onde encontrei<br />

o debate entre os médicos Diógenes Vinhaes e Moysés Hage<br />

acerca da naturalidade ou não do parto. Em defesa da obrigatoriedade<br />

do parto hospitalar 6 realizado por um obstetra ou dirigido<br />

por esse, o médico Diógenes Vinhaes centrou a sua apresentação<br />

em dois argumentos que julgava auxiliar a sua reivindicação: a não<br />

naturalidade do parto. A partir de uma visão eugenista 7 afirmava<br />

que “o parto não é função natural” e que este ia se tornando “mais<br />

difícil à medida que o progresso se faz sentir e a civilização aumenta”.<br />

(VINHAES, 1937, p. 189-90) A dor, as complicações – morte e<br />

lesões – que poderiam surgir para e nas parturientes bem como as<br />

consequências advindas do momento de nascimento (traumatismo<br />

do nascimento), que poderiam comprometer a vida futura do<br />

feto, foram os indicadores da não naturalidade do parto.<br />

6 Ele retoma uma discussão que havia feito anos antes na Sociedade de Medicina da Bahia.<br />

(VINHAES, 1937, p. 189)<br />

7 Sobre as concepções eugenistas na sociedade brasileira, sobretudo a sua influência no<br />

pensamento médico, recomenda-se a leitura de Schwarcz (1993) e Diwan (2007). A influência<br />

dessas concepções nos trabalhos produzidos pela médica e feminista Francisca P. Fróes foi<br />

objeto de estudo de capítulos específicos da tese de Rago (2005b, p. 211-354).<br />

176<br />

Gênero, mulheres e feminismos

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