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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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vidas só existiam através da garantia do emblema da “feminilidade”.<br />

(BRANDÃO, 1993, p. 115) 3<br />

No discurso glauberiano sobre Silvia, percebe-se o estabelecimento<br />

de um jogo em que afirmações e negações se permutam no<br />

tabuleiro narrativo. Isso pode ser visto na fala de Glauber, “não,<br />

Sílvia, certamente não”!, ainda que a ênfase em tal negação seja<br />

explicada pela própria negação de si: Silvia expressaria “sonhos”<br />

da adolescência do autor, portanto, não estaria enquadrada na<br />

performance das demais representações de mulher consideradas<br />

coerentes da sua vida adulta.<br />

Tal observação não tem qualquer intenção de psicanalisar o<br />

autor através da sua criação, porém, algumas associações nesse<br />

caminho são inevitáveis. Nós nos demos licença para os devaneios<br />

de forma a considerar que esse surto fugidio e sem consistência de<br />

ideias da adolescência, que Glauber faz recorrente nas suas falas<br />

sobre Silvia, soa e/ou se impõe como fantasias recalcadas na infância<br />

que retornam e são sublimadas através dessa personagem,<br />

estabelecendo uma concorrência que a autoridade de autor impede<br />

de ser: ele rasga as suas falas porque, no juízo dos seus valores,<br />

“tudo que ela dizia ficava ridículo”. Ao mesmo tempo, ele também<br />

a responsabiliza pela sua impotência como criador quando atribui<br />

à personagem, sua criação, a ausência de falas: “[...] não diz uma<br />

palavra sequer em Terra em Transe”. E, assim, a intenção de explicar<br />

Silvia, através da consciência do autor acaba por subsumir<br />

outras perspectivas de compreensão da personagem.<br />

É interessante lembrar que, em Terra em Transe, a palavra é<br />

moeda de identificação e de legitimidade para a economia e elaboração<br />

de sentidos dos personagens, mas, ainda assim, essa valoração<br />

é contraditada por Paulo Martins – o herói que, lembremos,<br />

3 Esta referência é alusiva ao comportamento do personagem Olímpia em “Contos Sinistros”<br />

de Cesarotto Hoffmann, analisado pela autora. Este personagem feminino desempenha na<br />

narrativa literária um papel similar ao de Sílvia em Terra em Transe.<br />

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Gênero, mulheres e feminismos

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