02.09.2015 Views

GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

alinne-bonneti-e-c3a2ngela-maria-freire-de-lima-e-souza-org-gc3aanero-mulheres-e-feminismos

alinne-bonneti-e-c3a2ngela-maria-freire-de-lima-e-souza-org-gc3aanero-mulheres-e-feminismos

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

porque era a mulher mais desenvolvida da granfinagem varguista”<br />

(1981a, p. 261). Tal estratégia, a peculiar atitude de construção<br />

dos personagens neste filme também mereceu a atenção de Robert<br />

Stam, que diz:<br />

Em vez de criar personagens, Terra em Transe desenvolve figuras<br />

políticas [...] Porfírio Diaz [...] incorpora a visão latinoamericana<br />

do despotismo ibérico, enquanto sua carreira política<br />

lembra a de Carlos Lacerda [...]. Vieira por sua vez apresenta<br />

uma síntese de diversos líderes populistas. (1993, p. 41-2)<br />

A militância de Sara a faz se aproximar de Paulo Martins quando<br />

vai até a redação do jornal Aurora Livre em busca de um jornalista<br />

para ajudá-la na luta contra uma sociedade injusta que<br />

convive com crianças famintas. Esse primeiro encontro deflagra<br />

a entrada de Sara na vida de Paulo assim como é também decisivo<br />

para o ingresso do jornalista na militância política. Como já vimos,<br />

a admiração de Paulo Martins por Sara é compartilhada pelo<br />

criador dos personagens para quem ela é o único caráter coerente<br />

em Terra em Transe, o ideal de militância nunca realizado tanto<br />

por Paulo Martins quanto pelo próprio Glauber Rocha. Não é ele<br />

próprio que diz concordar com Sara de que “poesia e política são<br />

demais para um homem só”?<br />

O fato é que Glauber Rocha se identifica com Paulo Martins −<br />

ele mesmo confessa: “as ilusões de Paulo são as minhas” −, mas,<br />

por sua inconstância, vulnerabilidade e ambiguidade, o herói se<br />

torna um anti-herói, ao contrário de Sara que, durante toda a narrativa,<br />

se desenvolve de forma coerente e plena nas suas virtudes.<br />

Contudo, como a pólis não é lugar permitido às mulheres, Glauber<br />

Rocha, no seu discurso racional, resultado da cultura patriarcal<br />

vigente no seu tempo, diz não encontrar “na realidade brasileira,<br />

mulheres tão conscientes” e desconstrói o lugar de gênero da personagem:<br />

“ela fala feito homem”: então, ela não existe. É interessante<br />

ouvir sobre isso a pesquisadora Rosyska Darcy de Oliveira:<br />

332<br />

Gênero, mulheres e feminismos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!