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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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O silêncio, de seu lado, é o que pode transtornar a unicidade. Não<br />

suportando a ausência das palavras − ‘Por que você está quieto?’<br />

‘O que você está pensando?’ −, o homem exerce seu controle e<br />

sua disciplina fazendo o silêncio falar ou, ao contrário, supondo<br />

calar o sujeito. (ORLANDI, 1993, p. 36)<br />

Glauber Rocha, quando assume – “[...] não consegui colocar<br />

uma só palavra em sua boca porque tudo que ela dizia ficava ridículo”<br />

– também mostra a censura que faz a Silvia, em decorrência<br />

da resistência da personagem, da negação de ser eco. Nessa guerra<br />

entre o criador e a criatura que se nega e foge do destino de ser<br />

imagem refletida do seu “dono”, só lhe resta o castigo, a rejeição.<br />

Em verdade, o silêncio do personagem não é um silêncio com sentido<br />

de vazio, de falta, ele aporta uma série de outros significantes<br />

dos quais o mais importante é o que evoca uma relação de poder.<br />

O silêncio de Silvia é silenciamento, atitude de resistência e lhe<br />

garante assumir uma alteridade naquele mundo saturado de falas.<br />

Portanto, não é de se perceber passiva, sem mais, uma figura que<br />

se revela contraponto de um contexto hegemonicamente masculino.<br />

E que fique claro, isto acontece não só pela sua mudez de fala.<br />

Não nos interessa aqui, fazer um julgamento moral das relações<br />

de amizade da personagem, de ela estar próxima desta ou<br />

daquela facção na política. O que buscamos, são os seus estatutos<br />

de significância, em sentido positivo. Como, por exemplo, o corpo.<br />

No filme, a personagem é inteiramente constituída por ele. Ela<br />

é senhora de seu corpo e, consequentemente, ele é seu discurso.<br />

A legibilidade de Silvia se encontra na sua capacidade de manter<br />

uma lógica e um mundo marcadamente feminino à margem do<br />

território masculino contaminado pelo desencanto dos projetos<br />

políticos mal articulados.<br />

Finalizamos, inferindo que, nas cenas dos anos sessenta, as<br />

mulheres do imaginário glauberiano, principalmente aquelas que<br />

emergem dos palcos urbanos, também estão em transe. Nesse tra-<br />

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Gênero, mulheres e feminismos

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