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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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Longe do eterno feminino, para além da ambigüidade, resposta<br />

possível a mensagens contraditórias, a autoria do feminino é,<br />

antes de mais nada, a de uma linguagem para dizê-lo, invenção<br />

que lhe permita exprimir-se sem fechar-se nas lógicas das definições<br />

que, entretanto são incessantemente exigidas das mulheres.<br />

Porque do ponto de vista da lógica masculina, negá-la<br />

significa fatalmente afirmar o seu oposto, dito com as mesmas<br />

palavras, dentro de um mesmo quadro de referência. Inconcebível,<br />

pois, uma lógica outra, em que conte mais o aproximar-se<br />

do que ainda é indefinido do que o apropriar-se de uma identidade<br />

pré-fabricada no espelho dos homens. Aproximar-se do<br />

feminino, inventando-o a cada dia, é o movimento que farão as<br />

mulheres neste fim de século. (1991, p. 13)<br />

No percurso da construção dos personagens começam a emergir<br />

inevitáveis contradições que, inevitavelmente, tensionam os<br />

modelos estabelecidos. Se, por um lado, a consciência do homem<br />

Glauber não reconhece Sara enquanto representação de mulher, a<br />

sensibilidade do artista promove uma ação significativa ao instalar<br />

a personagem no território da política, um terreno hegemonicamente<br />

masculino, ao tempo em que liberta os seus simulacros de<br />

mulheres para expor os sentimentos contraditórios e as tensões<br />

próprias do seu momento histórico.<br />

Nas cenas dos anos 60, a personagem Sara, ao tempo em que<br />

se entristece por ter renunciado ao casamento e à maternidade,<br />

tem no filme um lugar de vanguarda na postulação dos espaços<br />

públicos e políticos, onde inscreve como pano de fundo a reivindicação<br />

da igualdade com o masculino, esse “objeto do desejo”<br />

sempre tão caro aos movimentos de mulheres. Todavia, para atualizar<br />

a trajetória de Sara, já que são passados quarenta anos desde<br />

a sua construção, pode-se recorrer ao Marcuse dos anos 70, quando<br />

profeciou:<br />

A realização dos objetivos do movimento de mulheres exige uma<br />

segunda etapa em que ele transcenderia o quadro no qual está<br />

funcionando no momento presente. Nessa etapa, para além da<br />

Gênero, mulheres e feminismos 333

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