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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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Mas, foi a forma como o jurista definiu esses países que me<br />

forneceu pistas para os prováveis motivos da omissão de Malaquias<br />

e para a lembrança de Tobias Barreto. O jurista, em 1879,<br />

classifica esses países como o “alto mundo científico” (BARRETO,<br />

1962, p. 66) e nesta fala, entende-se que o “alto mundo científico”<br />

foi uma característica atribuída às ditas nações civilizadas. Tornar<br />

o Brasil um país civilizado foi uma discussão que permeou todo o<br />

século XIX, sendo uma preocupação de intelectuais, profissionais<br />

liberais e governantes. (MARTINS, 2004)<br />

Nessa perspectiva, a omissão de Malaquias foi uma forma de<br />

evitar que o seu posicionamento fosse associado a uma possível<br />

tendência contrária às medidas e situações que levariam o Brasil<br />

a ser definido como civilizado, enquanto a lembrança de Tobias<br />

Barreto mostra que o acesso das mulheres às faculdades era uma<br />

realidade das nações civilizadas, portanto, nada mais coerente<br />

que aqui também o fosse. Em outras palavras, aceitar a petição<br />

de Romualdo Alves Oliveira e, ao mesmo tempo, defender o acesso<br />

feminino aos cursos superiores, que era, na verdade, o âmago<br />

daquele debate, que se estendeu por duas semanas, como ele<br />

bem pontuou, era demonstrar que os legisladores pernambucanos<br />

estavam em sintonia com as premissas que definiam um povo<br />

como civilizado. E foi por isso que finalizou o combate à omissão<br />

do oponente afirmando que, ao explicitá-la, estava evitando que<br />

os seus pares cometessem “um crime de lesa-civilização, de lesaciência”.<br />

(BARRETO, 1962, p. 60)<br />

Decrépita e anacrônica, no sentido de que não seria mais condizente<br />

com as discussões realizadas no “alto mundo científico”,<br />

foram os adjetivos que o advogado utilizou, a partir da citação de<br />

cientistas europeus que fundamentam a sua afirmação, para se<br />

referir à Teoria Fisiológica que constitui o segundo argumento do<br />

médico pernambucano, para quem, com base nas ideias do doutor<br />

170<br />

Gênero, mulheres e feminismos

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