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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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a par das diferenciações segundo situação de classe, em sua possibilidade<br />

ou não de realização de escolhas, analisa como “novo<br />

objeto”, “aquisição histórica recente”, a mulher chefe de família<br />

de classe média. Onde cabem, e talvez com mais experiência<br />

e segurança, as mulheres idosas. Comparadas às que, em quase<br />

confidência, na pesquisa me declaravam “Agora chegou o tempo<br />

de pensar também em mim” (BRITTO DA MOTTA, 1999), quase<br />

dez anos depois, a dinâmica social lhes ensejou maior escolaridade,<br />

profissionalismo e segurança interna, para poderem falar,<br />

sempre com satisfação, em termos de “recomeçar a vida” e dar<br />

depoimentos como o de Maysa:<br />

Num certo sentido, depois que eu me separei minha situação<br />

melhorou, eu fiquei mais sem grana, porque tenho que assumir<br />

tudo sozinha, inclusive uma filha, mas eu estou tendo, como há<br />

muito tempo não tinha, minha vida de volta para mim. (Maysa,<br />

50 anos, economista). (MACÊDO, 2008, p. 222)<br />

Uma das razões fortes para o desejo de morar só das mulheres<br />

idosas com os filhos criados se refere à comum e pressionante<br />

tentativa de interferência, ou até ingerência, dos membros mais<br />

novos da família sobre a vida – atividades, saídas, uso do dinheiro,<br />

até vida sexual-afetiva – dos seus idosos, principalmente das<br />

mulheres. É também o registro de Diniz: “É curioso, também,<br />

como os familiares se acham no direito de intervir na vida das velhas,<br />

das mães, principalmente”. E relembra o desabafo revoltado<br />

da setentona Fermina de O amor no tempo do cólera, de Gabriel<br />

García Márquez: “Se nós, viúvas, temos alguma vantagem, é que<br />

já não nos resta ninguém que nos dê ordens” (1993, p. 13).<br />

Elvira Wagner (1992), em entrevista sobre pesquisa que coordenou<br />

com quase 300 idosos, em São Paulo, já revelava que 60,9%<br />

dos entrevistados (dos quais 77% eram mulheres), reconheciam<br />

que “a solidão, por vezes, é boa” e que 80% deles prefeririam<br />

morar em suas próprias casas se tivessem os meios para manter<br />

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Gênero, mulheres e feminismos

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