02.09.2015 Views

GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

alinne-bonneti-e-c3a2ngela-maria-freire-de-lima-e-souza-org-gc3aanero-mulheres-e-feminismos

alinne-bonneti-e-c3a2ngela-maria-freire-de-lima-e-souza-org-gc3aanero-mulheres-e-feminismos

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

quais eu tinha dificuldade de criar personagens que são comigo<br />

muito conscientes e têm uma influência moral e política [...].<br />

(1965, p. 122)<br />

A aura de mistério que circunda os personagens femininos<br />

no espaço fílmico de Glauber Rocha se traveste e se fragmenta,<br />

mas é sempre reflexo do olhar que os cria. No entanto, a opinião<br />

positiva, citada acima, acerca das personagens que representam<br />

mulheres não é generalizada. Em relação a Silvia, também uma<br />

das habitantes de Terra em Transe, o cineasta não tem qualquer<br />

condescendência. Ela não figura na sua galeria de personagens<br />

“conscientes”, com valoração positiva: é interditada e, por antecipação,<br />

como poderá ser lido na citação abaixo, tem o seu decreto<br />

de morte determinado pelo estado racional discursivo do artista:<br />

[...] não, Sílvia certamente não, [...] ela está em segundo plano,<br />

é uma espécie de musa, uma expressão de adolescência que se<br />

torna uma imagem fugitiva. Sílvia, aliás, não diz uma palavra<br />

em Terra em Transe, porque não consegui colocar uma palavra<br />

em sua boca. Escrevi diversos diálogos para ela, mas depois foram<br />

cortados porque tudo que ela dizia ficava ridículo. (ROCHA,<br />

1965, p. 83)<br />

O silêncio que conforma Silvia é visto pelo seu criador como<br />

a mais pura alienação, ausência de ser. Uma percepção compartilhada<br />

pela psicóloga Regina Andrade (1997) quando naturaliza a<br />

personagem como representação daquelas mulheres segundo ela,<br />

“sem vida, testemunhas passivas das lutas pelos ideais de poder.<br />

Cópia perfeita da época em que o filme foi realizado”. Cabe observar<br />

que a época à qual a estudiosa se refere, para além da cena<br />

cinematográfica, é o cenário social brasileiro dos anos 60, um<br />

contexto que, em geral, ainda não reconhece, de forma plena, o<br />

papel público das mulheres. Elas estavam fora da cena e desse cenário<br />

social compartilhado, instaladas no espaço privado da casa,<br />

com suas existências determinadas pelo amor a/de outrem. Suas<br />

Gênero, mulheres e feminismos 325

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!