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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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ealiza as ilusões do autor – quando, em determinado momento<br />

da narrativa ele murmureja: “− As palavras são inúteis”.<br />

No filme, a relação entre o autor e sua personagem está conformada<br />

por uma percepção que mantém a separação entre o<br />

mundo masculino e o feminino no âmbito do universo sociocultural<br />

fundado na oposição entre os sexos, na lei dos contrários.<br />

Como observa a pesquisadora Rosyska Darcy de Oliveira:<br />

No imaginário masculino, as mulheres são percebidas não só<br />

como diferentes, mas, sobretudo, como inferiores, ocupam, paradoxalmente,<br />

o lugar de ‘metade perigosa da sociedade’. Mais<br />

perto da natureza selvagem que da ‘paisagem humanizada’, detentoras<br />

da fertilidade da terra e da fecundidade do grupo, delas<br />

provém a ameaça suprema de que, caso rompam a relação<br />

primordial de alteridade/oposição e se recusem aos homens,<br />

estiole-se o solo e aniquile-se a espécie. (1991, p. 30)<br />

No entanto, o silêncio, a “morte” que o autor impôs a Sílvia,<br />

na tessitura do seu discurso racional, verbal, não consegue apagar<br />

o personagem. Para apoiar essa afirmação, se fazem recorrentes<br />

os estudos de Eni Orlandi quando diz que “a força corrosiva do<br />

silêncio faz significar em outros lugares o que não ‘vinga’ em um<br />

lugar determinado” (1993, p. 13). E essa perspectiva do silêncio se<br />

torna desencadeadora de tensões que emergem com vigor significativo<br />

no filme. Mas, para segurar, por enquanto, a atenção sobre<br />

Silvia na sua pobreza de fala, lançamos mão, também, de um texto<br />

de Eduardo Mascarenhas A Idade da Terra, no qual o psicanalista<br />

anota:<br />

O ato psíquico mais banal representa uma trama impensavelmente<br />

complexa. Nada é simples, nada é pobre, nada é burro e<br />

também nada é ‘puro’. Há pois que se ter respeito pelo ideologicamente<br />

considerado pobre, feio ou banal e menos respeito pelo<br />

ideologicamente considerado rico, belo e virtuoso. (1981, p. 98)<br />

Gênero, mulheres e feminismos 327

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