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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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1981a, p. 86) 4 Nessa perspectiva, não sem razão, Glauber Rocha<br />

mantém grande afinidade e identidade com Paulo Martins, personagem<br />

central de Terra em Transe. E assim, é possível que a<br />

crítica para alguns aspectos da política decorresse, de fato, desta<br />

alta consideração pela militância política como o caminho para a<br />

conscientização do país.<br />

É nesse lugar privilegiado que Glauber Rocha instala Sara. Não<br />

se pode esquecer que eram os anos 60 e a sociedade brasileira,<br />

mesmo em sua parcela progressista, guardava de forma acintosa<br />

as fronteiras entre os mundos público e privado. Às mulheres<br />

cabia cumprir os papéis definidos pelo segundo no qual a “esposa-mãe”<br />

era o modelo dominante enquanto os homens desenvolviam<br />

as relações mais relevantes e valorizadas, na esfera pública<br />

e, dentre estas, a política, seja no seu modelo conservador seja<br />

no progressista. Para as mulheres, esse lugar social significava,<br />

mais do que qualquer outro, um território estrangeiro e àquelas<br />

que conseguiam romper esta fronteira, no mínimo, era imposta a<br />

condição de “figura desviante” dos comportamentos sociais estabelecidos.<br />

Mas, Sara “talvez fale feito homem!”, diz o autor, confessando<br />

um estranhamento à própria criação, que representa uma mulher<br />

desviada do seu “destino”, habitando um “território” de domínio<br />

masculino. Mesmo sendo um criador genial, no seu discurso racional,<br />

Glauber Rocha não deixou de ser um homem da sua época,<br />

uma época na qual até mesmo as organizações políticas progressistas<br />

reproduziam o comportamento discriminador das relações<br />

entre os sexos vigentes na sociedade, e para as quais, como diz Ana<br />

Alice Costa, “[...] as mulheres deveriam se restringir às questões<br />

concretas da sobrevivência física, enquanto os homens viviam o<br />

4 É interessante observar esta relação identificadora entre Paulo Martins e seu autor. No livro<br />

A Revolução do Cinema Novo, Glauber escreve sobre o personagem: “Paulo Martins representa<br />

no fundo um comunista típico da América Latina. Pertence ao Partido sem pertencer, tem uma<br />

amante que é do partido. Coloca-se a serviço do partido quando este pressiona”.<br />

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Gênero, mulheres e feminismos

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