02.09.2015 Views

GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

alinne-bonneti-e-c3a2ngela-maria-freire-de-lima-e-souza-org-gc3aanero-mulheres-e-feminismos

alinne-bonneti-e-c3a2ngela-maria-freire-de-lima-e-souza-org-gc3aanero-mulheres-e-feminismos

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

gem de um estado mulher que tinha como percurso determinado<br />

o casamento e a maternidade, como evidencia a personagem, de<br />

forma veemente − “Eu também queria casar, ter filhos, ambições<br />

normais de uma mulher normal” −, para um momento que<br />

subverte esse caminho como destino. Assim, também nesse caso,<br />

mesmo dedicando a Sara o seu discurso mais fluente, o autor acaba<br />

por matar a personagem, ao amortecer as tensões que fazem<br />

emergir as suas diferenças.<br />

O fato dessa confessa simpatia de Glauber Rocha pela personagem<br />

Sara nos faz questionar se o modelo de “mulher consciente”<br />

idealizado por ele não seria aquele representado por Sara em Terra<br />

em Transe. Uma indagação que ganha a colaboração de outros<br />

estudiosos, a exemplo do professor Julio Lobo (1993) ao sugerir,<br />

de forma pertinente, que a militância política “aguerrida” de Sara<br />

seja o grande motivo de admiração de Glauber Rocha pela personagem,<br />

acentuando:<br />

[...] a política tinha naqueles anos uma aura toda especial. Dela<br />

partilhava a nata social que buscava os novos rumos para a sociedade<br />

brasileira, naquele momento, cheia de esperanças em<br />

suas potencialidades e em seu desenvolvimento. Constituía-se,<br />

portanto, como lugar sagrado para intelectuais e artistas desejosos<br />

de transformações. (1993, p. 53)<br />

Como se sabe, na efervescência da sua inconstância, Glauber<br />

nunca foi filiado a qualquer partido. A esse respeito, dizia:<br />

[...] nossa geração era comunista, utópica, vanguardística, populista<br />

e libertária e não poderia ser controlada pelo PC. Nossas<br />

relações eram cordiais e amistosas, mas nos sentíamos reprimidos<br />

porque logo queriam canalizar para uma prática burocrata<br />

da cultura. (ROCHA, 1981a, p. 294)<br />

No entanto, como argumenta Lobo (1993), grande parte dos<br />

jovens progressistas tinha proximidade com o Partido Comunista<br />

Brasileiro (PCB), força hegemônica da esquerda na época. (ROCHA,<br />

Gênero, mulheres e feminismos 329

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!