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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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temos de estar emitindo sinais sonoros (dizíveis, visíveis) continuamente.<br />

(1993, p. 37)<br />

Esse trecho do estudo da professora é de extrema pertinência<br />

para uma interpretação menos passional de Silvia, particularmente<br />

inscrita no contexto de um filme como Terra em Transe.<br />

O universo do filme, como já foi dito, é saturado de falas. O verbo<br />

é sua via de comunicação hegemônica, como também o é na política,<br />

uma prática criticada pelo próprio filme. Naquele contexto,<br />

a linguagem exercita a sua soberania. Isso acontece nos diálogos<br />

entre os personagens, nos poemas que são declamados, nos discursos<br />

políticos, nas canções, nos textos que se transformam em<br />

imagens. É um mundo da retórica, das palavras. Dessa forma, o<br />

comportamento de Silvia só pode causar estranhamento, subverter<br />

aquela ordem tão prenhe de signos. Ademais, só existem duas<br />

figuras femininas de destaque no filme. Se a outra, Sara, é inteiramente<br />

integrada àquele contexto, Silvia, com o seu silêncio, a sua<br />

singular diferença, só pode ser desvio, transgressão, oposição.<br />

A dificuldade em reconhecer e aceitar a diferença é visível não<br />

só entre os intérpretes; os personagens, os que seriam seus pares<br />

no filme, recorrentemente tentam fazer dela o seu eco: “— Você<br />

entende, Silvia, porque ele nos acha irresponsáveis? [...] mas eu<br />

encontrei Deus! Silvia, você sabe o que é encontrar Deus?”. Dizeres<br />

com entonações e gestos que caracterizam um falar para si<br />

próprio. Falas que se repetem operando outros dispositivos, como<br />

por exemplo, que é o de falar por ela: “A Silvia que será a Sra.<br />

Paulo Martins!”; “[...] vai abandonar Silvia também?”. Esse expediente,<br />

em verdade, inviabiliza seu próprio discurso. É a recusa<br />

de reconhecimento do outro que não é conhecido.<br />

Eni Orlandi, ainda falando sobre o papel do silêncio, lembra<br />

da quebra de identidade produzida pela nossa relação com a linguagem.<br />

Diz a autora:<br />

Gênero, mulheres e feminismos 337

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