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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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nunca vimos cousa mais absurda. Cousa que colloca a Bahia de<br />

tanta fama numa situação pouco invejável. Por que, qual a razão<br />

de se negar à sra. Gama Abreu o direito de ser immortal na Academia<br />

Bahiana? Digna por todos os títulos de receber tal honraria<br />

a candidata foi eleita e tem direito ao seu posto. Reconhecer<br />

‘sexo no espírito’ só mesmo uma visão muito vesga poderá fazer<br />

isso. Se a maioria da Academia de Letras da Bahia elegeu a sra.<br />

Gama e Abreu para fazer parte do seu cenáculo é porque os seus<br />

trabalhos, os seus dotes espirituaes estão à altura daquele tradicional<br />

templo da intelligencia bahiana. Querer desbanca-la<br />

agora pela razão mais tola, mais infantil, mais chocante possível<br />

é recuo que não fica bem para intellectuaes que se presam. A<br />

contenda bahiana chegou ao Rio e tem sido glosadissima (sic.).<br />

Todos se collocam ao lado da representante do sexo fraco, porque<br />

como disse o Sr. Afrânio Peixoto: − espírito não tem sexo!<br />

(NOTAS..., 1938)<br />

Nota-se nas entrelinhas das falas dos protagonistas da ala<br />

contrária, que a circulação da ideia acerca de os espaços intelectuais<br />

não serem destinados às mulheres – afinal, ali, o critério<br />

de participação era estabelecido por meio dos méritos alcançados<br />

pelos altos exercícios racionais, atributos não desenvolvidos<br />

pelo “fraco sexo” – se fazia presente no meio intelectual baiano da<br />

década de 1930. Essa minha interpretação é reforçada pela análise<br />

da frase que Afrânio Peixoto proferiu em uma das reuniões da<br />

Academia Baiana de Letras, na qual se discutiam os motivos para<br />

a aceitação ou não da candidatura de Edith: “Não conheço sexo<br />

do espírito”. (A MULHER..., 1938) Se traduzirmos essa afirmação<br />

como “a razão, o intelecto não tem sexo”, evidente se torna que as<br />

ideias acerca da inferioridade intelectual feminina estavam presentes<br />

naquele ambiente e que seus adeptos – apesar de não as<br />

expressarem explicitamente – não permitiriam o acesso feminino<br />

àquele espaço e, com este intuito, utilizaram-se dos mais diversos<br />

artifícios, desde o argumento baseado na manutenção da tradição<br />

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Gênero, mulheres e feminismos

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