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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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zeres do sexo, da vida. O inesquecível Wilson Barros (1982) a interpreta<br />

como o oposto de Sara, “a sua cópia suja”, enquanto Ismail<br />

Xavier (1993) lhe dá o sentido da “fossa indolente” e Regina Andrade<br />

(1997) a vê como o lado “alienante e passivo” da feminilidade. 6<br />

Como se percebe, nas análises dos intérpretes dos personagens<br />

femininos glauberianos, aparece uma saturação de adjetivos<br />

dirigidos a Silvia que denotam antipatia, impaciência, intolerância<br />

e que a retêm na memória de todos sempre de modo depreciativo<br />

que, em certo sentido, convergem para a opinião de Glauber<br />

Rocha. Quando convocado a falar dessa sua criação ele sempre esteve<br />

impaciente em sua reiterada negação da personagem.<br />

É certo que a economia de elaboração de Silvia e Sara se desenvolve<br />

através de moedas completamente diversas. Mas é complicado<br />

compreender o sentido valorativo que se atribui às duas<br />

personagens quando a primeira recebe uma carga depreciativa<br />

muito forte e, como se diria popularmente, “já entra perdendo”,<br />

inclusive por alguns atributos que fazem parte da sua conformação<br />

e que, socialmente, são considerados positivos como atração, beleza,<br />

bom gosto, entre outros, que não apenas são relegados como<br />

reforçam a sua depreciação, na compreensão da maior parte dos<br />

seus intérpretes. Tomando-se como exemplo a beleza, este é um<br />

atributo para o qual existe um consenso de valor, mas que, para<br />

Silvia, não funciona, o que nos leva a questionar se os intérpretes 7<br />

de Silvia não estariam reproduzindo o banal estereótipo de que<br />

“mulher bonita é sempre burra”? Se assim for, estaria instalado<br />

mais um impasse, tão a gosto de Terra em Transe: beleza e positividade<br />

são demais para uma mulher só?<br />

Não resta dúvida que o personagem de Silvia transita de modo<br />

confortável no “lado podre”, o mundo dos vilões da trama. Os<br />

6 Palavras de Vieira quando apresenta Sara a Paulo Martins.<br />

7 Chamamos de intérpretes os pesquisadores que trataram desse tema nos seus estudos.<br />

Gênero, mulheres e feminismos 335

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