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GÊNERO MULHERES E FEMINISMOS

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Com efeito, Nelson Silva (1987), ao investigar casamentos<br />

inter-raciais no Brasil, identifica a predominância de uniões de<br />

homens mais escuros com mulheres mais claras, fato que atribui<br />

tanto a fatores demográficos como a um padrão matripolar de<br />

aquisição de status e mobilidade social. O casamento de um negro<br />

com uma mulher branca ou de pele clara possibilita que seus<br />

filhos tenham acesso a socialização e status superiores aos seus.<br />

Os dados levantados pelo autor indicam que, quanto mais elevada<br />

for a posição social desses indivíduos, maior o percentual de endogamia.<br />

Na mesma linha de pensamento, Elza Berquó, ao estudar a<br />

desigualdade sob uma perspectiva demográfica, também aponta<br />

para um branqueamento da população, pois, ao mesmo tempo<br />

em que identifica um excedente de mulheres em relação aos homens<br />

e um número maior de homens negros do que de homens<br />

brancos, os homens negros não tendem a se unir com mulheres<br />

da mesma raça. Segundo a autora, “a tendência do clareamento se<br />

dá pelo fato dos homens procurarem mulheres mais claras” (1988,<br />

p. 79), o que coloca as mulheres negras em desvantagem no mercado<br />

amoroso e, certamente, faz com que elas se sintam inseguras<br />

quanto ao seu poder de sedução. Além disso, se associarmos a<br />

clivagem racial ao fato de serem independentes financeiramente,<br />

bem-sucedidas na profissão e de terem acima de 30 anos, tudo<br />

indica que as chances dessas mulheres se tornam ainda mais remotas,<br />

caso se recusem a relativizar os critérios de elegibilidade<br />

para a formação do par. Em suma, a mulher negra tem maior probabilidade<br />

de permanecer solteira 8 do que a mulher branca.<br />

8 Certamente, não ignoro que as emoções inter-raciais podem fluir à revelia de normas e regras,<br />

independentemente de quadros estatísticos. Ver, por exemplo, Laura Moutinho (1999); Zelinda<br />

Barros (2003). Por outro lado, Monica Weinberg e Erin Mizuta (2005) identificam, na Bahia, uma<br />

maior tendência das mulheres negras oriundas dos segmentos de baixa renda sobreviverem<br />

sem parceiros, devido à tradição matriarcal que vigora no Estado e à forte influência do<br />

candomblé. Tais argumentos apontam para a necessidade de um maior aprofundamento acerca<br />

Gênero, mulheres e feminismos 109

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