dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...
dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...
dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
112<br />
pessoas pensam que nas comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombo só vivem pessoas negras.<br />
As características físicas <strong>de</strong> Andrelina mostram o contrário. Nas comunida<strong>de</strong>s remanescentes<br />
<strong>de</strong> quilombos a cor ou as características físicas não são suficientes <strong>para</strong> indicar os moradores<br />
<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>, pois, nelas, po<strong>de</strong>mos encontrar pessoas com biótipo e com cor <strong>de</strong><br />
pele que vai do branco ao negro. O que faz com que essas pessoas sejam vistas como<br />
remanescentes <strong>de</strong> quilombo é a auto-atribuição, ou seja, o reconhecimento por elas mesmas,<br />
<strong>de</strong> que elas são quilombolas, e também o reconhecimento dos outros em relação a elas.<br />
Aspectos que nos apontam claramente <strong>para</strong> a questão i<strong>de</strong>ntitária: sua existência é sempre<br />
relacional. Quando recorremos ao termo, mostramos o quanto sua capacida<strong>de</strong> heurística se<br />
justifica pelo princípio da alterida<strong>de</strong>. Do reconhecer o outro como diferente <strong>de</strong> mim.<br />
Andrelina disse que queria me conhecer, pois Dona Maria já havia falado sobre o meu<br />
trabalho e minha ida ao Quilombo há uns meses atrás. Ela estava curiosa <strong>para</strong> enten<strong>de</strong>r<br />
melhor a pesquisa. Na verda<strong>de</strong> quem falava mais era sua amiga, Edvirgem, originária <strong>de</strong><br />
Chapada do Norte. Ela disse-me que lá também já existiram quilombos e que muitas pessoas<br />
estudam a região e seus moradores.<br />
Convi<strong>de</strong>i as duas <strong>para</strong> a cozinha, on<strong>de</strong> podíamos conversar mais a vonta<strong>de</strong>. Como é<br />
costume no Vale do Jequitinhonha, esse espaço da casa serve como uma sala <strong>de</strong> visita.<br />
Enquanto tomávamos um café fui explicando às duas sobre o trabalho. Falei sobre as<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s que são construídas ao longo da vida e em espaços distintos. Expliquei a elas que<br />
os jovens estudantes do ensino médio, moradores do Quilombo, teriam relevância<br />
fundamental <strong>para</strong> o trabalho, inclusive Andrelina. Enfim, fui respon<strong>de</strong>ndo às questões que as<br />
duas me faziam. Andrelina se dispôs a participar da pesquisa e falou que os outros alunos e<br />
colegas também já sabiam um pouco do que se tratava e que estavam todos dispostos a<br />
colaborar no que fosse possível. As duas se <strong>de</strong>spediram, pois a aula estava prestes a começar.<br />
Agra<strong>de</strong>ci a visita e acompanhei as mesmas até o portão dizendo-lhes que em breve estaria<br />
com elas na escola todas as noites. Um dos atores da minha pesquisa eu já havia conhecido,<br />
faltava conhecer os <strong>de</strong>mais.<br />
Após o início das aulas fui à escola no período matutino <strong>para</strong> comunicar à direção que<br />
eu iniciaria as observações. Muitas crianças brincavam <strong>de</strong> roda e pula-corda no pátio. Era uma<br />
aula <strong>de</strong> educação física. Fui até a secretaria que funciona também como diretoria. A diretora<br />
recebeu-me prontamente. Expliquei a ela que daria início às observações e que estas<br />
ocorreriam no pátio, refeitório, horários vagos, aulas <strong>de</strong> educação física, horários <strong>de</strong> entrada e<br />
saída dos alunos, mas, somente no período da noite. A diretora concordou que eu <strong>de</strong>sse início<br />
às observações.