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dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...

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cozinha o fogo acolhedor do fogão a lenha. No quintal dois fornos <strong>de</strong> barro <strong>para</strong> assar as<br />

quitandas. Além <strong>de</strong> vários “pés <strong>de</strong> laranja” carregados. Um chiqueiro e um galinheiro bem<br />

próximos da casa, segundo ela “são pra ficar mais fácil <strong>de</strong> cuidar” (dona Maria,<br />

moradora.) 37 . Disse-me isso talvez na tentativa <strong>de</strong> justificar o possível mau cheiro que eu e<br />

meu colega pudéssemos sentir.<br />

Fomos recebidos por dona Maria, seu esposo Vicente, e sua filha Maria, aluna do<br />

terceiro ano do ensino médio em Ribeirão. Meu colega já era conhecido dos moradores, pois<br />

é professor da Escola <strong>de</strong> Ribeirão, on<strong>de</strong> estudam muitos dos alunos da comunida<strong>de</strong>. O fato do<br />

meu “Doc” e colega já ser conhecido facilitou este primeiro contato. Também estava na casa,<br />

uma outra moça, casada com um amigo da família que estava trabalhando em São Paulo no<br />

corte <strong>de</strong> cana. Disse-me dona Maria: “Ela vem pra cá <strong>de</strong> vez em quando... fica aqui com o<br />

menino pra não ficar sozinha em casa, mas em novembro ele chega....” (dona Maria,<br />

moradora.). 38 Como me disse isso, sem que eu tenha perguntado, acredito que sua fala foi<br />

somente <strong>para</strong> justificar a presença da moça e da criança. Relações <strong>de</strong> apoio e afetivida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ste tipo são comuns em comunida<strong>de</strong>s rurais. Segundo Eunice Durham, essas relações são<br />

facilitadas pela ausência <strong>de</strong> diferenciação social e por certa homogeneida<strong>de</strong> entre os vizinhos,<br />

que na maioria das vezes possuem laços <strong>de</strong> parentesco (1984, p. 76).<br />

Aquela moça certamente é mais uma “viúva <strong>de</strong> marido vivo”, expressão comum no<br />

Vale do Jequitinhonha, comum no sertão das Minas Novas. Refere-se àquelas famílias em<br />

que os homens migram <strong>para</strong> São Paulo e outras regiões, em busca <strong>de</strong> trabalho. A partida<br />

acontece geralmente no mês <strong>de</strong> abril e o retorno somente em novembro ou <strong>de</strong>zembro. Nesse<br />

espaço <strong>de</strong> tempo as mulheres cuidam <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a educação dos filhos até o trabalho nas<br />

roças, bem como das criações. São mulheres “homens”. Assim, <strong>para</strong> amenizarem a sauda<strong>de</strong><br />

dos maridos, se abrigam, muitas vezes, nas casas dos pais ou dos sogros, recebendo <strong>de</strong>stes,<br />

afeto e apoio. A instituição familiar e vicinal é muito valorizada, as pessoas se am<strong>para</strong>m<br />

mutuamente, tanto nos momentos <strong>de</strong> alegria e celebrações, quanto nos momentos <strong>de</strong> tristeza e<br />

abandono.<br />

Fui apresentada a todos pelo meu colega. Dona Maria conhecia minha mãe das<br />

reuniões <strong>de</strong> dirigentes <strong>de</strong> culto, realizadas pela Igreja Católica em Minas Novas. No<br />

Quilombo é ela quem cuida da Igreja <strong>de</strong> Bom Jesus, que fica localizada próxima à sua casa,<br />

celebra os cultos e cuida das festivida<strong>de</strong>s religiosas quando estas acontecem. Ficou mais<br />

interessada em saber como estava dona Lia – assim se referiu a minha mãe – e em saber<br />

37 Dados da conversa informal. Pesquisa <strong>de</strong> campo realizada no Quilombo em 20/07/2010.<br />

38 Dados da conversa informal. Pesquisa <strong>de</strong> campo realizada no Quilombo em 20/07/2010.<br />

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