dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...
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Bom Jesus da Lapa. Eunice Durham <strong>de</strong>staca que, as promessas, são formas comuns <strong>de</strong> o<br />
crente estabelecer uma relação com as divinda<strong>de</strong>s; é uma relação <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> entre<br />
ambos. (1984, p. 79). Todos procuram “pagar” aos santos por alguma graça recebida.<br />
Essa mistura <strong>de</strong> ritos profanos aos ritos religiosos po<strong>de</strong> ser percebida também, nas<br />
apresentações da Marujada do Quilombo. O grupo mistura cantos com temas religiosos, com<br />
cantos e danças que não possuem aspectos religiosos. Segundo Scarano, cantos e danças<br />
foram incorporados às celebrações católicas, (1978, p. 151), e, esse costume permanece até os<br />
dias atuais. No Vale do Jequitinhonha po<strong>de</strong> ser percebido em várias cida<strong>de</strong>s, em diversas<br />
festas. Em Minas Novas, por exemplo, po<strong>de</strong>mos encontrar danças 61 como a “dança do<br />
tambor”, “o vilão”, “o nove”, “mangangá”, “Congado <strong>de</strong> São Benedito” junto com as<br />
festivida<strong>de</strong>s religiosas, tais como a Festa do Rosário.<br />
As festas <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção aos santos, com características bem mescladas entre o profano e o<br />
sagrado, continuam sendo, ainda hoje, em muitas comunida<strong>de</strong>s, como no Quilombo, por<br />
exemplo, espaços <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tentarem preservar suas culturas, suas<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. On<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> já não existir escravidão, as pessoas ainda precisam lutar todos os<br />
dias, <strong>para</strong> terem seus costumes e tradições preservados, direitos respeitados e garantidos, como<br />
a posse <strong>de</strong> suas terras, por exemplo. Sobre a Festa <strong>de</strong> Bom Jesus e outras tradições do<br />
Quilombo, diz assim os jovens sujeitos <strong>de</strong>ssa pesquisa:<br />
É muito bom... as comidas e as danças típicas são um bom exemplo das coisas boas,<br />
por isso que é bom viver na minha comunida<strong>de</strong>. (Ney, 18 anos). 62<br />
Aqui é um lugar bem preservado e tranqüilo. Os hábitos e costumes é assim... tem a<br />
festa <strong>de</strong> Bom Jesus, e todo mundo ajuda e tem leilões. Quando fazem esses tipos <strong>de</strong><br />
61 Dança do Tambor: quando três pessoas, geralmente homens, usando dois tambores, um pequeno e um<br />
gran<strong>de</strong> – <strong>para</strong> este é necessário dois homens – tocam em roda <strong>de</strong> fogueiras que são feitas após as novenas e<br />
leilões da Festa do Rosário. As pessoas se reúnem em volta dos três e da fogueira <strong>para</strong> dançarem e contarem<br />
causos engraçados.O Vilão: é uma dança em forma <strong>de</strong> roda, em que os pares dançam no meio do salão, dando<br />
as mãos e girando entre si, on<strong>de</strong> um por vez entra na roda, canta versos e volta <strong>para</strong> seu lugar. Todos repetem<br />
o verso que foi cantado.O Nove: é uma dança praticada na rua ou em salões espaçosos, on<strong>de</strong>, <strong>de</strong> três em três,<br />
começam um sapateado e os seis primeiros, em avanço e recuos, viram-se e reviram-se, ultrapassando todo o<br />
grupo <strong>de</strong> três em três, até terminarem os últimos. Havendo sempre sons <strong>de</strong> viola, violão, tambores e ban<strong>de</strong>iro e<br />
uma pessoa <strong>para</strong> puxar as músicas ou versos.Mangangá: é uma das danças populares da Festa do Rosário. A<br />
palavra significa enorme, muito gra<strong>de</strong>. Refere-se também a uma espécie <strong>de</strong> besouro. Consiste em uma roda<br />
on<strong>de</strong> várias pessoas cantam versos e batem palmas e sapateiam. Um homem vai ao meio da roda e convida<br />
uma mulher <strong>para</strong> uma dança. Eles entrelaçam os braços esquerdos e giram, trocam os braços e continuam<br />
girando e cantando. Depois <strong>de</strong> se<strong>para</strong>dos, um verso é cantado por todos da roda. Congado <strong>de</strong> São Benedito:<br />
além <strong>de</strong> representar a coroação dos reis do Congo, o congado é responsável pela musicalida<strong>de</strong> durante os<br />
cortejos da Festa do Rosário. Usam instrumentos como o reco-reco, a sanfona, pan<strong>de</strong>iro, xiquexique, viola,<br />
violão e várias caixas. Além <strong>de</strong> tocar os participantes cantam versos e canções com temas religiosos ou não.<br />
Geralmente um grupo composto <strong>de</strong> mulheres acompanha o congado dançando e rodando. Elas vestem saias<br />
rodadas e amarram lenços nos cabelos. (FREIRE, Álvaro. 2002b. p. 13-36).<br />
62 Dados da entrevista. Pesquisa <strong>de</strong> campo realizada na escola em 11 nov. 2011.