dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...

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trabalhem para ajudar em casa, em lugar de estudar. No Quilombo é o contrário, os pais
preferem que os filhos estudem ao invés de trabalharem.
Dona Olímpia nos disse que praticamente criou os filhos sozinha, pois separou-se de
seu marido há uns seis anos. Segundo ela, o ex-marido mora na comunidade de Santiago e
convive bem com os filhos. 57 Ela trabalha nas fazendas da região, na capina ou na colheita do
café. Mas, mesmo com o trabalho árduo, prefere que seus filhos estudem para que possam ter
um destino diferente do dela.
Dona Olímpia nos ofereceu café e suco, no entanto, como já estava ficando tarde, não
aceitamos, pois d. Maria estava nos esperando para o jantar. Agradecemos pela hospitalidade.
Eles nos acompanharam até a estrada escura, por onde seguimos com auxilio da lanterna.
4.5 – Jantar, banho de balde e sono...
Ao chegarmos à casa de d. Maria o jantar já estava pronto. Arroz, feijão, pescoço e pé
de frango ensopados, salada de repolho e tomate. As panelas estavam no fogão à lenha. E os
pratos brancos esmaltados e os talheres estavam próximos às panelas. Como bons anfitriões
estavam nos esperando para jantar. Ronaldo, filho de dona Maria, serviu-se primeiro. Disse-
nos assim: “vou puxar a fila pro cês não ficar com vergonha.” (Ronaldo, morador). 58 Após
ele se servir, nos servimos também, já estávamos com fome e também cansadas.
Quando estávamos jantando Ney chegou até a casa e foi logo entrando para a cozinha.
Os donos da casa ofereceram a ele, e ele respondeu que havia acabado de jantar em sua casa.
Após o jantar as mulheres se reuniram para lavar as vasilhas. Outras, inclusive, minha mãe,
foram cozinhar carnes para facilitar o serviço do dia seguinte. Reunimo-nos todos no quintal,
ficamos até tarde conversando e como o tempo no Quilombo é bem frio à noite, aproveitamos
o fogo das fornalhas para nos aquecer.
Conversamos sobre as festas antigas, os moradores que já morreram, os que se
mudaram em busca de tratamento médico, como por exemplo, o sr. Zé de Tiolina, pai de
Marciano, que teve de se mudar para Capelinha, lugar com mais conforto para os cuidados
com a saúde. É importante destacar como as relações de parentesco norteiam as identidades
das pessoas em comunidades rurais. É comum se referirem a alguém, incluído no seu nome, o
nome do pai, ou da mãe, ou do esposo, exemplo, “Zé de Tiolina”, “Maria de Vicente”,
57 Dados da conversa informal. Pesquisa de campo realizada no Quilombo em 27/08/2011.
58 Dados da conversa informal. Pesquisa de campo realizada no Quilombo em 27/08/2011.