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3 - DISTRITO DE RIBEIRÃO DA FOLHA E A ESCOLA
E tanta explicação dou, porque muito ribeirão e vereda, nos contornados por ai,
redobra nome. Quando um ainda não aprendeu, se atrapalha, faz raiva. Só Preto,
já molhei mão nuns dez. Verde, uns dez. Do Pacarí, uns cinco. Da Ponte, muitos.
Do Boi, ou da Vaca, também. E uns sete por nome de Formoso. São Pedro,
Tamboril, Santa Catarina, uma porção. O sertão é do tamanho do mundo. (ROSA,
2001, p. 89).
A Escola Estadual de Ribeirão da Folha, onde realizei parte das pesquisas e
observações e onde estudam os sujeitos desta pesquisa, fica localizada no distrito de Ribeirão
da Folha. Dessa forma, ao estudar como são constituídas as identidades de jovens
remanescentes de quilombo, consideramos que as identidades possuem relação com o meio
onde os sujeitos interagem, neste caso, a escola é um dos lugares onde ela se constrói. Sendo
então, mais que relevante que o distrito de Ribeirão da Folha seja mostrado, uma vez que,
pode explicar, em parte, como ocorre a construção/afirmação de possíveis identidades étnico-
raciais quilombolas, como já dito no início desta dissertação.
Ribeirão da Folha é o lugar onde eu nasci, cresci e passei toda a minha infância e
adolescência, mas, só agora, na condição de pesquisadora, passei a olhá-lo com outros olhos.
Tentei durante a pesquisa praticar o exercício do “estranhamento”, tornar estranho o que me
era familiar e tornar familiar o que hoje, após mais de quinze anos, morando em outros
lugares, me parecia estranho, como ensina Roberto DaMatta, (1987, p. 160).
A distância de Minas Novas até Ribeirão da Folha é de cerca de 75 quilômetros. A
estrada é de terra, com muitos buracos. O ônibus, às vezes, parece que vai tombar,
principalmente nas curvas. Ele sai da rodoviária de Minas Novas às 13h30min, e chega até
seu destino por volta de 16h30min. O calor assusta os visitantes, mas, durante o percurso o
clima fica mais ameno, principalmente por causa dos extensos quilômetros de plantações de
eucalipto. Além do eucalipto, a vegetação que podemos visualizar é o cerrado, com suas
árvores retorcidas, principalmente uma enorme quantidade de pequizeiros. Cruzamos alguns
córregos e rios, entre eles o Rio Capivari, que em época de pouca chuva, fica quase seco. As
casas durante o percurso são escassas e muito distantes umas das outras. É bem parecido com
o que Guimarães Rosa descreve em Grande Sertão Veredas:
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar
dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; [...]. O gerais corre em volta.
Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe:
pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte. (2001, p. 24)
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