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70 Vale do Jequitinhonha os negros no meio de grandes sofrimentos souberam guardar bem sua identidade cultural”, (1981, p.95). Figura 02 – Mulher com oferenda à N. S. do Rosário na “Quinta Feira do Angu” Fonte: IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE MINAS NOVAS - 2006 Os ritos da festa se iniciam no mês de abril, precisamente no domingo após a páscoa, quando um dos membros da irmandade, vestido com opa amarela, uma espécie de capa, sai tocando uma campainha pelas ruas anunciando que haverá naquele dia a reunião da “mesa”, ou seja, a reunião com todos os irmãos, na qual é feita a eleição para a escolha dos reis novos. Quem inicia a cerimônia é o vigário, recitando o Pai-Nosso e a Ave Maria, para que a sessão seja abençoada. Logo em seguida o tesoureiro faz a leitura do acórdom do dia 25 de junho do ano anterior, ou seja, da ata, e o que ficou decidido na mesma pelos irmãos naquele ano. O escrivão faz a leitura da pauta da reunião e ao final da mesma, os presentes assinam. Nesta pauta estão escritos os nomes dos indicados para concorrerem aos cargos, sendo quatro para juizes maiores, quatro para juizas maiores e três para os cargos de escrivão, tesoureiro,
procurador e zelador, demonstrando aí uma modificação em relação ao compromisso antigo, que prescrevia haver também, doze juizes menores. Nesta mesma reunião são indicados também, os concorrentes aos cargos da mesa e mordomos do mastro, além do de rei e rainha. A eleição do rei e rainha não é secreta, os votos devem ser dados em voz alta, não sendo permitido dar voto em nome de um irmão ausente. Terminado o pleito, os reis eleitos devem dizer se aceitam o cargo ou não, visto que recaem sobre eles vários encargos, inclusive arcar com as despesas da festa no ano seguinte. Os irmãos mesários e os mordomos são empossados em seus cargos e após a conclusão de todos os trabalhos, os reis eleitos, os reis velhos e o vigário, são conduzidos às suas moradias pelos presentes. O compromisso não deixa claro quem têm direito de votar, mas nos dias atuais, somente aqueles que estiverem em dia com suas despesas relativas à irmandade e for maior de 16 anos é que poderá fazê-lo. É tradição na madrugada da segunda quinta-feira de junho, a lavação da igreja, onde, os irmãos da irmandade ou não, se reúnem para lavar e enfeitar a Igreja do Rosário, visto que as novenas se iniciam no dia 15 deste mês, e, para isso, o local deve estar limpo e preparado para que os fiéis sejam recebidos. Dessa forma, todos seguem com latas na cabeça para o Rio Fanado, de onde é apanhada a água para efetuar a lavação. Não conseguimos identificar de onde e nem como surgiu este costume de apanhar água no rio para lavar a Igreja do Rosário. Ao conversar com alguns membros, eles nos disseram apenas que faz parte da tradição. Após a limpeza, é servido para os fiéis o tradicional angu pelos reis da irmandade, por isso, a quinta-feira de lavação, ficou conhecida como “quinta-feira do angu”. O angu, muitas vezes, é servido em pratos de barro, feitos por artesãos locais, acompanhado de farofa, torresmo, lingüiça, tutu de feijão e muita cachaça para aquecer o frio de junho, ao redor de uma grande fogueira, onde os irmãos cantam e dançam ao som de caixas, tambores e sinos, costume herdado dos primeiros confrades, os escravos; para estes, “o som dos tambores funcionava, também, como elemento significante que restituía a lembrança, a memória e a história do sujeito africano, forçadamente exilado de sua pátria” (MARTINS, 1997, p. 39). Tudo isso era feito antes do dia clarear, visto que os escravos, durante o dia prestavam serviços a seus senhores, não sendo, portanto, liberados para serviços pessoais. A tradição da “quinta-feira do angu” é preservada até os dias atuais. 71
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