dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...
dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...
dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
256<br />
esquecidos pela socieda<strong>de</strong>, enfrentando situações quase calamitosas <strong>para</strong> concluir o ensino<br />
médio. Nos tempo <strong>de</strong> estio a poeira, nos tempos <strong>de</strong> chuva a lama e os atolamentos dos ônibus<br />
que os transportam e aos colegas em condições precárias, <strong>para</strong> não dizer miseráveis. Some-se<br />
a essa dura rotina, o cansaço causado pela distância geográfica entre a comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
vivem e o distrito on<strong>de</strong> estudam. Assim valorizam a escola e a educação. Não apenas como<br />
espaços <strong>de</strong> aprendizagem, mas, também, como espaço <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>s.<br />
Esta valorização da educação pô<strong>de</strong> ser percebida, também, nas falas <strong>de</strong> algumas das<br />
mães dos sujeitos, que disseram preferir ver seus filhos na escola do que no trabalho. Esta<br />
posição reflete a posição assumida pela ASPOQUI, uma vez que a mesma valoriza a educação<br />
em seus aspectos formais, como um mecanismo <strong>de</strong> alcançar melhorias individuais e coletivas.<br />
A associação espera que, após a conclusão dos estudos, principalmente no nível superior, que<br />
os jovens retornem <strong>para</strong> a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem <strong>para</strong>, <strong>de</strong> alguma forma, ajudar na melhoria<br />
das condições <strong>de</strong> vida do lugar.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos neste trabalho que as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos sujeitos são construídas através <strong>de</strong><br />
processos on<strong>de</strong> ocorrem transformações individuais e coletivas, isto é, as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s são<br />
constituídas a partir das relações existentes entre o sujeito e a socieda<strong>de</strong>, ou seja, as relações<br />
entre o “eu” e o “outro”. Assim, as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s nunca são fixas, únicas ou estáveis, são<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s em formação, cujo elemento étnico-racial quilombola se faz presente, seja através<br />
das festas, da religião, da consciência da cor, da participação nas lutas da comunida<strong>de</strong> etc.<br />
Tratando-se <strong>de</strong> constituição i<strong>de</strong>ntitária <strong>de</strong> jovens remanescentes <strong>de</strong> quilombos, ou seja,<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnico-raciais quilombolas, o assumir-se enquanto indivíduo nesta condição,<br />
significa segundo Souza, (1990) assumir sua diferença, sua alterida<strong>de</strong>.<br />
Enten<strong>de</strong>mos que as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnico-raciais quilombolas dos sujeitos são<br />
constituídas e afirmadas a partir <strong>de</strong> várias marcas, como a <strong>de</strong>scendência, as festas tradicionais,<br />
a associação comunitária da qual fazem parte e também as políticas governamentais. Para os<br />
sujeitos, ser pessoa quilombola é antes <strong>de</strong> tudo assumir sua participação <strong>de</strong>ntro da<br />
comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> vivem, seja através da participação e valorização das festas e costumes,<br />
seja, através da ASPOQUI, contribuindo <strong>para</strong> sua manutenção com um pagamento mensal, ou<br />
recebendo através <strong>de</strong>la as políticas públicas governamentais em benefício da comunida<strong>de</strong>,<br />
como por exemplo, os projetos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda, como os criadouros <strong>de</strong> peixe ou as cestas<br />
básicas.<br />
Ser pessoa quilombola é reconhecer sua <strong>de</strong>scendência e assumir sua cultura como<br />
diferente da cultura do “outro”, é ser diferente como princípio <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong>. Nesse<br />
reconhecimento em ser “pessoa quilombola” percebe-se que a cor da pele não é tida como