dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...
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Senhora do Rosário, como também é tradição em várias comunida<strong>de</strong>s rurais, festas em<br />
homenagem a santos <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção, como por exemplo, Festa <strong>de</strong> Bom Jesus <strong>de</strong> Ribeirão da<br />
Folha, que acontece todos os anos no mês <strong>de</strong> setembro e Festa <strong>de</strong> Bom Jesus do Quilombo,<br />
que acontece todos os anos no mês <strong>de</strong> agosto.<br />
Para compreen<strong>de</strong>rmos a religiosida<strong>de</strong> presente nestas manifestações <strong>de</strong> fé proferida<br />
nas festas em homenagem aos santos <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção, e, que ainda hoje são celebradas nas<br />
comunida<strong>de</strong>s negras, também chamadas <strong>de</strong> remanescentes <strong>de</strong> quilombo, <strong>de</strong>vemos enten<strong>de</strong>r<br />
como essas comemorações aconteciam no período da escravidão. Segundo Eduardo<br />
Hoornaert, citado por Boschi, essas manifestações serviam como<br />
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espaço <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> numa vida <strong>de</strong> escravidão, (na qual) o escravo tem que trabalhar<br />
<strong>para</strong> o senhor, mas dança <strong>para</strong> si. [...] a religião se realiza <strong>de</strong>pois do trabalho, à<br />
margem do trabalho, como um intervalo no meio do trabalho, um respirar livre no<br />
meio da opressão. Daí o caráter essencialmente passageiro da festa brasileira: a<br />
sabedoria popular sabe que o melhor da festa é que ela “existe”, apesar <strong>de</strong> tudo... a<br />
festa, com toda a sua exuberância, <strong>para</strong>doxalmente revela até que ponto o cativeiro é<br />
<strong>de</strong>sumano e finalmente insuportável. Por isso ela <strong>de</strong>ve ser entendida como sinal e<br />
pressagio <strong>de</strong> libertação (1986, p. 60).<br />
Naqueles dias festivos, “passageiros”, o escravo era livre, o negro ou a negra podiam ser reis<br />
ou rainhas. Tudo ao som <strong>de</strong> tambores, cantos e danças. As festas <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção realmente <strong>de</strong>vem<br />
ser entendidas como momentos <strong>de</strong> “libertação”. Era a principal ocasião <strong>para</strong> os escravos se<br />
encontrarem, quando podiam, através dos ritos, lembrarem <strong>de</strong> uma África longínqua, on<strong>de</strong> os<br />
que não conheceram a terra natal <strong>de</strong> seus pais e avós assimilavam as práticas, os costumes e<br />
tradições que jamais foram esquecidos, ao contrário, foram reinventados mesclando<br />
características sincréticas aos ritos religiosos.<br />
Segundo Pereira, (2004, p. 37), estudioso <strong>de</strong> sincretismo religioso, o ritual <strong>de</strong><br />
oferendas <strong>de</strong>ixa evi<strong>de</strong>nciar as características mais sincréticas do catolicismo popular. Nesse<br />
contexto, existe um costume estabelecendo trocas entre os fiéis e os santos. Aqueles fazem<br />
promessas aos santos pedindo curas <strong>de</strong> doenças, bênçãos <strong>para</strong> familiares ou outros pedidos e<br />
estes recebem em troca, quando o pedido é atendido, rezas, orações, novenas e festas em sua<br />
homenagem. Segundo Pierre Bourdieu, esses gestos <strong>de</strong> trocas entre o fiel e o santo po<strong>de</strong>m ser<br />
classificados como “trocas simbólicas”, e são bem comuns no catolicismo popular e em<br />
religiões africanas e afro-brasileiras (1992, p. 111). Na Festa <strong>de</strong> Bom Jesus do Quilombo<br />
po<strong>de</strong>mos perceber claramente estes gestos dos fiéis. Alguns trazem terços que são <strong>de</strong>ixados na<br />
igreja, outros trazem doações em dinheiro, uns trazem pessoas que estiveram adoentadas, e<br />
ainda há alguns que trazem imagens <strong>de</strong> Bom Jesus, muitas vezes compradas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>