dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...

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Dona Maria, que já estava preparando as acomodações para que pudéssemos dormir,
perguntou-nos se nos importávamos de dormir na sala, pois os quartos já estavam ocupados.
Respondemos que não teria problema nenhum, que estava bom em qualquer lugar. Ao
chegarmos à sala, ela estava colocando para nós, um colchão de casal. Disse-nos que ele fica
guardado para as ocasiões em que recebe muitos visitantes, como a época da festa, por
exemplo. Colocou roupas de cama e cobertores que nos pareceu novos. Disse-nos que o
banheiro da comunidade que fica localizado na porta da sala estava aberto, que se
precisássemos podíamos usá-lo. Agradecemos e dissemos a ela que não precisava se
preocupar conosco. Estávamos muito cansadas e logo estaríamos dormindo.
A noite passou depressa. Por volta das cinco horas da manhã todos acordamos. Havia
chegado um grupo de mulheres para terminar de preparar as comidas. Elas chegaram
cantando e rezando. Seu Vicente soltou os primeiros fogos para anunciar que a festa estava se
iniciando.
4. 6 – A Festa de Bom Jesus da Lapa no Quilombo
Ao conversar com os moradores sobre quando começaram a festejar Bom Jesus na
comunidade, a maioria respondeu que não sabia a data precisa. Alguns deles dizem que é uma
tradição que veio com os primeiros habitantes da região. Outros moradores, como por
exemplo, sr. Vicente, d. Maria e d. Beota, disseram que antigamente as festas eram mais
animadas, existiam momentos de rezar e outros para festejar, inclusive com a distribuição de
quentão e um animado forró. Mas, segundo eles, muitas pessoas se mudaram em busca de
melhores condições de vida, e, os que permanecem na comunidade não possuem “a animação
dos antigos”, de acordo com as palavras de sr. Vicente. 60 Porém, mesmo assim, todos os anos,
no mês de agosto o Quilombo faz a festa em homenagem ao Senhor Bom Jesus, procurando
manter os costumes dos primeiros que iniciaram o costume de festejá-lo.
Para Julita Scarano, estudiosa do assunto, o costume de festejar santos de devoção,
como por exemplo, Nossa Senhora do Rosário, veio para Minas Gerais com as primeiras
confrarias religiosas, no início do século XVIII. Segundo ela essas festas, “consistiam em
cerimônias religiosas, missas com comunhão e em outras funções, tais como danças, cânticos
e ‘comilanças’” (1978, p. 150). A partir daí, este costume se espalhou, outros santos passaram
a ser festejados, tanto pelos homens livres como também pelos negros escravizados. Em
Minas Novas, como já dissemos, ainda hoje é tradição a celebração em homenagem a Nossa
60 Dados da conversa informal. Pesquisa de campo realizada no Quilombo em 27/08/2011.