dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...
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Os jovens <strong>de</strong>ssa pesquisa participavam <strong>de</strong> forma ativa. Andrelina e Ana Paula estavam<br />
ajudando a confeccionar as máscaras que seriam usadas pelos alunos do período matutino.<br />
Elas disseram-me que o turno da noite já estava velho <strong>para</strong> máscaras. Respondi às duas que<br />
discordava e, que, a máscara é um símbolo dos carnavais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da ida<strong>de</strong>. Elas<br />
apenas riram e ficaram brincando uma com a outra sobre qual máscara usariam. Ney estava<br />
ajudando com o som e a escolha das músicas juntamente com outros alunos. Eles diziam que<br />
as músicas eram a melhor parte da festa. Renato estava em uma sala ajudando a enfeitá-la.<br />
Ao chegar até a sala <strong>de</strong> aula on<strong>de</strong> Renato estava com outros colegas percebi que ele<br />
estava muito próximo <strong>de</strong> uma aluna do terceiro ano. Não quis interromper a conversa dos<br />
dois. Entrei e saí rapidamente. Ao chegar ao pátio, curiosa, perguntei a um dos alunos qual a<br />
relação dos dois. Eles respon<strong>de</strong>ram-me que os dois eram namorados. Que a menina era<br />
evangélica, mas que, mesmo ele sendo católico, já namoravam havia um tempo. Não quis<br />
perguntar se os pais da moça sabiam ou não, pois, na região é bem comum os evangélicos não<br />
namorarem católicos. Durante a pesquisa pu<strong>de</strong> verificar que os pais da moça autorizavam o<br />
relacionamento dos dois.<br />
O certo é que em momentos como este, ou seja, pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> uma comemoração e<br />
também nos dias <strong>de</strong> culminância das mesmas, muitos alunos aproveitam <strong>para</strong> namorar, não<br />
que isso só aconteça em dias festivos, ao contrário, acontece sempre. Segundo DaMatta, este<br />
tipo <strong>de</strong> acontecimento, <strong>de</strong> evento é “dominado pela brinca<strong>de</strong>ira, diversão e/ou licença, ou<br />
seja, situações on<strong>de</strong> o comportamento é dominado pela liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente da suspensão<br />
temporária das regras <strong>de</strong> uma hierarquização repressora” (1983, p. 38). Assim, nestes dias, a<br />
direção não impõe regras, os alunos ficam à vonta<strong>de</strong> pela escola, o portão permanece aberto<br />
todo o tempo, eles são menos vigiados, tanto pelos funcionários da escola, quanto pelas suas<br />
famílias. Esses eventos servem <strong>para</strong> estreitar esses laços amorosos uma vez que estes jovens<br />
possuem poucas opções <strong>de</strong> lazer em suas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> origem.<br />
Procurei sentar-me em um espaço vazio do pátio e apenas observar o movimento.<br />
Alguns alunos saiam <strong>para</strong> a rua, mas não <strong>de</strong>moravam a voltar. Outros ficavam no portão<br />
observando o movimento. Logo alguns vieram <strong>para</strong> on<strong>de</strong> eu estava e começaram a perguntar<br />
por que eu havia “sumido”, <strong>para</strong> on<strong>de</strong> eu estava, pois, fiquei quase uma semana sem<br />
comparecer à escola. Respondi aos alunos que estava tendo aula em Belo Horizonte e que<br />
pelo menos uma vez ao mês eu iria até lá <strong>para</strong> participar <strong>de</strong> seminário <strong>de</strong> orientação. Alguns<br />
alunos, como Ney, por exemplo, disseram que estavam sentindo minha falta e que já estavam<br />
acostumados com minha presença na escola. Entendi que havia sido aceita por eles e que<br />
minhas observações haviam sido incorporadas ao cotidiano da escola.<br />
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