01.08.2013 Views

dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...

dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...

dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

204<br />

a escola e o mais importante, ele se i<strong>de</strong>ntificou como um jovem remanescente <strong>de</strong> quilombo,<br />

afirmando uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnico-racial quilombola.<br />

Ainda em um dia do mês <strong>de</strong> abril, as turmas estavam todas em suas salas. Estava<br />

sentada no refeitório conversando com uma auxiliar <strong>de</strong> secretaria sobre os rumos da minha<br />

pesquisa, quando <strong>de</strong> repente Renato <strong>de</strong>sceu as escadas rumo ao banheiro. A auxiliar <strong>de</strong><br />

secretaria iniciou um diálogo com ele e eu fiquei apenas observando:<br />

Auxiliar 2: você tá sumido rapaz, nem <strong>de</strong>sce pro recreio, fica lá em<br />

cima só namorando!<br />

Renato: aqui não po<strong>de</strong> namorar, a gente só conversa...<br />

Auxiliar 2: conversar é namorar. Faz parte do namoro!<br />

Renato: não! Ta claro <strong>de</strong>mais! É bom namorar no escuro.<br />

Auxiliar 2: mas moço, no escuro a gente não exerga!<br />

Renato: mas a gente senti uai! É melhor! No claro a gente só pre<strong>para</strong><br />

pro escuro!! (CADERNO DE CAMPO, 2011)<br />

Após o diálogo dos dois, os mesmos riram. A auxiliar <strong>de</strong> secretaria gostou muito do<br />

que Renato havia dito, “no claro agente só pre<strong>para</strong> pro escuro” e ficou repetindo e<br />

comentando com os professores e colegas <strong>de</strong> secretaria que chegavam. Renato foi<br />

rapidamente ao banheiro e passou sorri<strong>de</strong>nte por nós. O diálogo entre os dois indica que as<br />

sociabilida<strong>de</strong>s e convivência na escola se dão <strong>de</strong> forma natural.<br />

Nos meses seguintes eu já estava bem familiarizada com os alunos e eles comigo. Eu<br />

participava a pedido <strong>de</strong>les dos jogos <strong>de</strong> ping-pong, <strong>de</strong> dama, peteca, só dos <strong>de</strong> futsal eu não<br />

me arriscava. Os alunos já não tinham vergonha <strong>de</strong> mim. Agiam como se eu fosse uma <strong>de</strong>les.<br />

Convidavam-me <strong>para</strong> festas nas comunida<strong>de</strong>s vizinhas, inclusive comemorações particulares<br />

feitas em suas casas. Muitos dividiam comigo segredos e problemas <strong>de</strong> suas vidas.<br />

No horário que o “ônibus azul” chegava os alunos agiam <strong>de</strong> forma corriqueira. Alguns<br />

entravam na escola, outros iam <strong>para</strong> as vendas e havia alguns que se assentavam na área da<br />

casa paroquial ou na calçada <strong>de</strong> uma venda, <strong>de</strong> frente a escola. As conversas eram sobre<br />

passeios, festas, namoradas, amigos, trabalhos escolares, provas, estradas ruins e até sobre o<br />

estado <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> seus ônibus, que, <strong>de</strong> vez em quando, estragavam <strong>de</strong>vido à<br />

precarieda<strong>de</strong> das estradas. Durante o período da aula <strong>de</strong> educação física, horários vagos e<br />

saída dos alunos, nada <strong>de</strong> diferente acontecia. Era final <strong>de</strong> maio. Encerrei então as<br />

observações sistemáticas na escola e como já expliquei os motivos, retornei à sala <strong>de</strong> aula na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capelinha, <strong>para</strong> on<strong>de</strong> eu havia pedido remoção. Mesmo dando por encerrada as

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!