dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...

escura. No pescoço usava um cordão prateado bem grosso. Pareceu-me ser um pouco tímido,
pois observava os colegas jogarem em silêncio, não brincava com os que perdiam ou dava
palpite no jogo. Ao chegar sua vez no jogo ele permaneceu sério, talvez estivesse se
concentrando para acertar a bolinha no campo do adversário. Mas, mesmo assim, perdeu e foi
substituído por uma colega. Encostou-se em uma das pilastras do pátio e como tinha sido
“zuado” - assim se referem às brincadeiras feitas pelos colegas - por ter perdido, começou a
“zuar” das jogadas erradas dos colegas e também daqueles que perdiam. Foi então ao
bebedouro com um colega, passou por onde eu estava, cumprimentou-me com um “oi”e, após
ter tomado água, tirou do bolso um celular, que me pareceu bem moderno, colocou umas
músicas de forró tipo universitário, bandas como “Calcinha Preta”, “Bonde do Forró”, entre
outros, numa altura que me pareceu inadequada para o ambiente escolar, pois poderia
perturbar as outras turmas que estavam tendo aula. Permaneceu conversando com o colega
por uns dez minutos e depois retornou para perto de onde estavam jogando ping-pong com o
som do celular ainda ligado. Parecia querer chamar atenção. Pude perceber então, que ele não
era tímido como eu havia pensado, ao contrário, ele entrosava com todos os colegas,
principalmente com as meninas.
Neste dia Andrelina ficou durante os dois horários de educação física sentada em um
dos batentes do pátio, conversando com uma amiga e rindo das brincadeiras dos colegas. Ela
passou por mim algumas vezes, indo ao bebedouro ou subindo até sua sala, e em meio a
cumprimentos, perguntou como eu estava, mas, não parou para poder conversar. Talvez ali,
no espaço escolar, perto de vários colegas, ela não quisesse mesmo parar para conversar
comigo. Então, fiquei apenas observando-a durante o decorrer da aula.
No momento seguinte, durante o recreio procurei conversar com um grupo de alunos
que não se sentaram no refeitório, preferiram comer em pé próximo ao portão, pois, por entre
as grades podiam ver o movimento da praça. Do lado de fora da escola vários jovens e
adolescentes estavam sentados nas calçadas e também montados em motocicletas paradas
próximas dali. Eles observavam o interior da escola enquanto conversavam.
Um dos auxiliares de secretaria disse após o recreio, que isso era comum. “Esses
rapazes ficam do lado de fora para ver as meninas, namoradas ou não”. (Auxiliar 1). 18 Disse
que quando o portão está aberto muitas alunas vão para a praça e também alguns jovens
entram na escola. Por esse motivo a escola procurava manter o portão fechado no horário do
recreio. (Auxiliar 1). 19 No entanto, muitos alunos iam para o portão quando podiam, ou seja,
18 Dados de conversa informal. Pesquisa de campo realizada na escola em 10/02/2011.
19 Dados de conversa informal. Pesquisa de campo realizada na escola em 10/02/2011.
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