dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...

Fui acompanhando o grupo, em procissão, juntamente com outras mulheres na busca
pela bandeira de Bom Jesus. Caminhamos por uma estrada estreita ao lado da igreja. Sobre
esse aspecto da procissão, “o caminhar”, diz DaMatta:
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o caminhar quotidiano é funcional, racional e operacional, pois tem um alvo
específico; o trabalho, a compra, o negócio, o estudo. Mas no caminho ritual, ou
melhor, no caminho consciente do ritual, o alvo e a jornada se tornam mais ou
menos equivalente. Então, o deslocamento normal e diário fica invertido, pois que
já não se concentra mais só no ponto de chegada – no alvo – mas também no
próprio caminhar. (1983, p. 80).
Foi assim, concentrando-se no próprio caminhar, que os marujos tocaram e cantaram cânticos
de louvor e as mulheres rezaram baixinho com rosários nas mãos. Como o que é procurado no
destino “não é algo concreto, palpável”, e sim, bênçãos, curas e estabelecimentos de
promessas, os fiéis seguem a procissão não importando quais sejam as dificuldades. É o
sacrifício! Segundo DaMatta, “sacrificar-se significa basicamente usar o corpo para entrar em
contato com o santo” (1983, p. 81-82). Dessa forma, não se estabelece relações com o santo
por correspondência, ou de forma virtual, é preciso estar presente e caminhar com ele.
Figura 55 – Procissão indo buscar a bandeira de Bom Jesus da Lapa
Fonte: Foto da autora, 2011
Ao chegar a casa onde estava a bandeira de Bom Jesus, o grupo foi recebido pelos
seus donos, os fogos estalaram nos céus, os marujos permaneceram ali dançando, cantando e