dissertação revisada para biblioteca - Centro de Referência Virtual ...

“Fátima de Coelho”, “Lia de Antônio José”. Sobre a importância das relações de parentesco,
diz Eunice Durhan:
163
Essas relações se apresentam como extensão da solidariedade do grupo doméstico
[...] e se manifestam através de obrigações amplas, mas não bem definidas, de ajuda
mútua e de amparo em qualquer situação de crise. [...] estabelece um círculo de
relações pessoais preferenciais (reais ou potenciais), que é mobilizado conforme as
necessidades e interesses dos indivíduos. A concretização dessas relações
potenciais depende assim da proximidade física, da simpatia e afinidade entre as
pessoas, e das possibilidades e necessidades econômicas de cada um num momento
determinado. (1984, p. 71-72)
Ainda segundo a autora, as relações de parentesco e compadrio vão além do grupo
local, podendo se estender para outros lugares, facilitando a “mobilidade de um grupo para
outro”. Assim, a família, como também os parentes e vizinhos, podem ser considerados como
núcleos de apoio aos indivíduos em comunidades rurais. Esse apoio, auxílio, como disse a
autora, depende de fatores como a afinidade, a proximidade, a possibilidade e a necessidade
do indivíduo. No Quilombo, notamos esse auxilio nos preparativos para a Festa de Bom Jesus
da Lapa, pois, o evento uniu parentes e vizinhos, que, trabalhando juntos, em “mutirão”,
conseguiram organizar e realizar a Festa. Segundo Eunice Durhan, o mutirão é uma das
poucas ações coletivas nas comunidades, e essa atividade acontece principalmente, para
organizar eventos lúdicos e religiosos (1984, p. 77-78). Dona Maria pediu-me então, que
procurasse o sr. Zé de Tiolina, pai de Marciano, para saber mais sobre a história do lugar,
pois, segundo ela, ele sabe contar a história da comunidade. Tá velho mais tem cabeça mió
que a minha”. (Dona Maria, moradora). 59
Com o tardar da hora, algumas mulheres que moravam perto foram embora, outras,
que vieram de comunidades vizinhas, foram se recolhendo. Ney também foi embora e disse-
nos que voltava no dia seguinte bem cedo para ajudar-nos no que fosse preciso. Dona Maria
quis esquentar água para que pudéssemos tomar banho, mas, já havíamos tomado banho antes
de sair de casa. Estávamos um pouco empoeiradas, e, também suadas, mas, a possibilidade de
tirar a roupa com aquele frio, para tomar banho de balde nos assustou. Preferimos dormir sem
outro banho. Além do que, daríamos à dona Maria o trabalho de colocar água para esquentar,
e, ela já estava como pudemos perceber, cansada de todo o trabalho e preparativos para a
festa.
59 Dados da conversa informal. Pesquisa de campo realizada no Quilombo em 27/08/2011.