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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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— Silêncio, minha <strong>filha</strong> — disse Anne, com os olhos fixos no horizonte. —<br />

Fugir não vai nos aju<strong>da</strong>r em na<strong>da</strong>.<br />

Bess viu um olhar de calma e resignação no rosto de sua mãe. Ela apertou os<br />

olhos, mirando a distância, seguindo a direção do olhar <strong>da</strong> mãe. Bill Prosser havia<br />

desaparecido dentro <strong>da</strong> floresta, mas o som de cascos ain<strong>da</strong> podia ser ouvido. Ele<br />

vinha, ela podia ver agora, do grupo que despontava no alto do morro e trovejava<br />

caminho abaixo, rapi<strong>da</strong>mente, em direção ao chalé. À frente dos outros cavalgava<br />

Nathaniel Kilpeck.<br />

A reunião que havia sido convoca<strong>da</strong> no tribunal deveria essencialmente<br />

determinar se as acusações contra Anne tinham ou não credibili<strong>da</strong>de suficiente para<br />

levá-la a julgamento. Mas, na mente de Bess, aquilo já era um julgamento em si.<br />

Anne estava sendo manti<strong>da</strong> em frente à banca<strong>da</strong> no fundo <strong>da</strong> sala por um oficial. A<br />

galeria pública estava cheia de pessoas do vilarejo, murmurando e cochichando.<br />

Tudo acontecera tão rápido, que Bess ain<strong>da</strong> não conseguira compreender<br />

completamente. Ali estava ela, senta<strong>da</strong> na ressonante sala do tribunal, cerca<strong>da</strong> por<br />

rostos familiares que ela não mais reconhecia. Eram vizinhos, colegas agricultores e<br />

feirantes, pessoas que conhecera por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>, que agora estavam ali, lotando os<br />

bancos de madeira, debruçando-se para ver melhor a suposta <strong>feiticeira</strong> que vivia<br />

entre eles. A porta se abriu, e uma procissão de homens sisudos caminhou até seus<br />

lugares na banca<strong>da</strong> do magistrado. Bess reconheceu Nathaniel Kilpeck e dois de seus<br />

homens. Com ele estava também o conselheiro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, Geoffrey Wilkins, e o<br />

reverendo Burdock. Assim que se acomo<strong>da</strong>ram, o conselheiro Wilkins bateu o<br />

martelo três vezes pedindo silêncio. Os ruídos cessaram.<br />

— Esta reunião foi convoca<strong>da</strong> — declarou ele —, com a finali<strong>da</strong>de de<br />

inspecionar as provas contra Anne Hawksmith. Quem a preside é o magistrado<br />

Nathaniel Kilpeck, enviado diretamente pela autori<strong>da</strong>de do Parlamento na posição<br />

de caçador de <strong>feiticeira</strong>s.<br />

Nathaniel Kilpeck dispensou mais introduções.<br />

— Obrigado, conselheiro — disse ele com sua voz curiosamente alta e tensa.<br />

Ele fez uma pausa, estreitando os olhos para encontrar primeiro Anne e depois os<br />

espectadores reunidos. — Muitos de vocês aqui devem ter ouvido meu nome e<br />

devem ter ouvido sobre atos associados a mim. Atos graves. Não peço desculpa por<br />

eles. Estes são tempos sombrios. O diabo caminha sobre a Terra, e nenhum de nós<br />

está a salvo de suas mãos profanas. Cabe a todos, a ca<strong>da</strong> um de nós, a incumbência<br />

de sermos vigilantes. Estarmos atentos para os perigos que espreitam entre aqueles

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