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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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mas ain<strong>da</strong> assim estava zanga<strong>da</strong> comigo mesma. Era uma idiotice não manter o<br />

controle e ridículo experimentar emoções tão fortes a respeito de ca<strong>da</strong> sacerdote<br />

inofensivo que cruzava o meu caminho. Antes de chegar ao outro lado do prado do<br />

vilarejo, fui invadi<strong>da</strong> por uma forte sensação de perigo. Mesmo abala<strong>da</strong> pelo<br />

encontro com o padre, reconheci aquela sensação como uma ameaça diferente.<br />

Parei. Ergui o queixo e olhei devagar ao meu redor. Não havia na<strong>da</strong> à vista. Nenhum<br />

movimento. Nenhuma figura sombria. Na<strong>da</strong> fora do comum. Chalés silenciosos. Um<br />

terraço tranquilo. Um ponto de ônibus vazio. Patos grasnando com uma vulgari<strong>da</strong>de<br />

reconfortante no lago. Não havia na<strong>da</strong> de assustador. E, ain<strong>da</strong> assim, foi com uma<br />

grande sensação de alívio que cheguei ao santuário de Willow Cottage e fechei<br />

decidi<strong>da</strong>mente a porta às minhas costas.<br />

17 de fevereiro de 2007 — lua nova<br />

O céu estava claro no meu primeiro dia de negócios no mercado de Pasbury.<br />

Eu estava de pé antes do amanhecer para encher o carro com as minhas<br />

mercadorias. O veículo é, sob qualquer perspectiva, uma bênção e uma maldição. É<br />

um velho Morris Traveller — pequeno, de manutenção barata, com um porta-malas<br />

espaçoso e quatro portas — que me permite transportar meus chás de ervas, óleos<br />

vegetais, loções, sabonetes, conservas e vinhos de um lado para outro. O carro<br />

exige, contudo, uma papela<strong>da</strong> muito cansativa. É impossível ter um carro e proteger<br />

sua identi<strong>da</strong>de ao mesmo tempo. A ca<strong>da</strong> dez ou doze anos, preciso me reinventar,<br />

principalmente para poder obedecer às exigências <strong>da</strong>s leis de trânsito. Mesmo<br />

assim, admito ter certa ternura pelo veículo. Raramente viajo para longe, mas sem o<br />

carro seria difícil manter meus negócios no mercado, e as ven<strong>da</strong>s são um modo<br />

essencial de gerar ren<strong>da</strong>. E de permitir que aqueles que precisam de mim me<br />

encontrem, é claro. Mesmo nesta supostamente ilumina<strong>da</strong> Era de Aquário, sou<br />

incapaz de colocar um cartaz na porta dizendo bruxa — feitiços e poções para to<strong>da</strong>s<br />

as ocasiões. Não. Devo me ajustar e me a<strong>da</strong>ptar, e apresentar uma versão de mim<br />

mesma mais... aceitável para o mundo exterior. O carro estava um tanto relutante<br />

em <strong>da</strong>r a parti<strong>da</strong>, mas respondeu a um feitiço. Deixei o motor ligado enquanto<br />

terminava de alojar as mercadorias e amarrava as portas com barbantes. Eu estava<br />

trancando a casa quando ouvi o motor parar. Sem pensar, concentrei-me, fiquei<br />

imóvel e repeti o feitiço. Houve um momento de hesitação, e então o motor voltou<br />

a funcionar mais uma vez e rugiu alegremente. Foi somente quando me virei para o<br />

carro que percebi que Tegan estava para<strong>da</strong> no portão, sua expressão revelando

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