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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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Passchen<strong>da</strong>ele, Flandres, 1917 - Capítulo 1<br />

Desci do trem em Saint Justine, 12 quilômetros a sudoeste de<br />

Passchen<strong>da</strong>ele, no que era, na ver<strong>da</strong>de, na<strong>da</strong> mais do que uma para<strong>da</strong>. Em tempos<br />

de paz, poucos pés teriam passeado por suas plataformas, aguar<strong>da</strong>ndo seus trens<br />

raros e meio vazios. Agora, mesmo à noite, quando a maioria <strong>da</strong>s pessoas escolheria<br />

estar dormindo se pudesse, era um cenário de constante movimento, um lugar de<br />

urgência e propósito. Enquanto desembarcavam as tropas que retornavam e os não<br />

combatentes, os feridos eram transferidos para dentro do trem, muitos deles em<br />

padiolas, outros com muletas, todos esgotados <strong>da</strong>s batalhas e concentrando sua<br />

visão firmemente na direção de casa. Junto com o pequeno grupo de cirurgiões e<br />

enfermeiras, fui atravessando a confusão vertiginosa, saindo <strong>da</strong> estação e descendo<br />

a rua principal. Saint Justine era um vilarejo, na<strong>da</strong> mais, e na<strong>da</strong> notável, aliás. Se não<br />

fosse por sua localização na linha ferroviária ou sua perigosa proximi<strong>da</strong>de com a<br />

frente de batalha, é provável que eu jamais tivesse visto ou ouvido falar do lugar.<br />

Em vez disso, ficou para sempre gravado em minha mente: um nome para me<br />

sacudir do presente, um lugar indescritivelmente associado à dor e per<strong>da</strong>. As<br />

próprias palavras têm uma sonori<strong>da</strong>de doce e fazem com que a boca sorria ao<br />

pronunciá-las: Saint Justine, Saint Justine. Mas nunca em minha vi<strong>da</strong> conheci um<br />

lugar mais vergado sob o peso do sofrimento e do desgosto humanos. A rua<br />

principal, tal como era, oferecia algumas lojas vazias, um café, uma pa<strong>da</strong>ria<br />

desprovi<strong>da</strong> de calor ou de cheiros, uma igreja com seus vitrais cobertos de tábuas,<br />

uma escola abandona<strong>da</strong> e um punhado de casas indescritíveis. As habitações se<br />

esgotavam no ponto em que a rua subia uma pequena colina, do outro lado de onde<br />

o hospital provisório fora erguido. Ou, mais corretamente, Posto de Evacuação (PE)

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