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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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ser retratos de clientes frequentes, e havia um particularmente grande<br />

de monsieur e ma<strong>da</strong>me Henri sobre a porta para a cozinha. O bar fora polido e gasto<br />

por milhares de mangas, enquanto os que as vestiam clamavam por vinho, absinto<br />

ou café. Do teto alto pendiam três candelabros impressionantes de vidro escuro<br />

sobre o centro <strong>da</strong> sala, os quais combinavam com as luminárias que iluminavam os<br />

cantos. À esquer<strong>da</strong> do bar ficava um pequeno piano. Havia duas mesas sob a janela,<br />

ocupa<strong>da</strong>s por um pelotão de sol<strong>da</strong>dos inebriados. A julgar por seus uniformes e<br />

sotaques, eram australianos. A maioria dos convivas era composta de sol<strong>da</strong>dos,<br />

exceto por um casal idoso no canto mais distante e um grupinho de garotas<br />

francesas de rosto jovial sentado no centro <strong>da</strong> sala, fingindo não notar os olhares<br />

descarados de admiração dos homens. Todo o espaço estava preenchido pelo<br />

burburinho de pessoas se divertindo, pela emoção do flerte, pelo cheiro de café,<br />

vinho e colônia, e por uma sensação concreta de joie de vivre. Aquela era a França<br />

como sempre fora e sempre seria. Aquilo estava a milhares de quilômetros <strong>da</strong><br />

brutali<strong>da</strong>de que se instalara a distância de apenas uma curta viagem de trem.<br />

Compreendi o que Strap dissera: seria um pecado alguém não aproveitar tal lugar. A<br />

oportuni<strong>da</strong>de de se divertir normalmente, com interação humana amigável, deveria<br />

mesmo ser celebra<strong>da</strong> e saborea<strong>da</strong> até a última gota.<br />

— Gosto muito — disse a Archie enquanto ele me servia vinho. Olhei para<br />

ele enquanto levava minha taça aos lábios. — Não consigo imaginar outro lugar<br />

onde gostaria de estar.<br />

— Nem eu.<br />

— Nem mesmo Glencarrick?<br />

— Neste momento, não. Este momento já está perfeito. Brindemos a ele.<br />

Que fique para sempre gravado em nossas memórias, independente de quanto<br />

tempo isso possa significar.<br />

Bebemos nosso brinde, nossos olhares perdidos um no do outro. Senti que<br />

Archie tinha a capaci<strong>da</strong>de de me conhecer ao olhar para mim, de enxergar as<br />

profundezas do meu ser. Havia algo maravilhosamente reconfortante nessa<br />

percepção. Era como se to<strong>da</strong> a solidão dos longos anos que eu vivera fosse alivia<strong>da</strong><br />

ao ter os olhos dele sobre mim <strong>da</strong>quela maneira. Como se ele tivesse lido meus<br />

pensamentos, sua expressão ficou mais séria. Archie pousou sua taça.<br />

— Acho que devo explicar uma coisa — falou. — Eu era apenas uma criança<br />

e muito apega<strong>da</strong> ao meu pai, mas é com a minha mãe que eu mais me assemelho.

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