14.04.2017 Views

A filha da feiticeira - Paula Brackston

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

335<br />

humana e também não exalava apenas ar. Era algo amarelo, sulfuroso e podre, e<br />

vinha com uma força que não se podia imaginar. Uma força que sacudiu to<strong>da</strong>s<br />

aquelas árvores, todos aqueles carvalhos poderosos, com centenas de anos e que<br />

pesavam só Deus sabe quanto; empurrou-as to<strong>da</strong>s de volta para a floresta, como se<br />

fossem palha. E com elas empurrou Elizabeth. Ela foi joga<strong>da</strong> para trás, voou pelo ar<br />

e aterrissou de forma desajeita<strong>da</strong>, caindo contra algumas <strong>da</strong>s árvores derruba<strong>da</strong>s.<br />

Naquele exato momento, eu me senti livre. Livre e exposta, como se qualquer<br />

proteção que Elizabeth houvesse construído a meu redor tivesse sido quebra<strong>da</strong>.<br />

Virei-me para correr até ela, para ajudá-la, mas, de repente, o céu ficou escuro,<br />

como se a lua tivesse sido apaga<strong>da</strong>. Olhei para cima e desejei não ter feito aquilo<br />

quando vi o que estava sobre a minha cabeça. Morcegos, milhares deles. E não eram<br />

pequenos comedores de frutas inofensivos. Aqueles animais eram enormes,<br />

maiores do que corvos, e pareciam guinchar de forma estridente quando<br />

começaram a voar muito baixo. Mal tive tempo de gritar antes que me atingissem.<br />

Eles me derrubaram e tentavam me pegar com suas garras sobrenaturalmente<br />

afia<strong>da</strong>s. Tentei afastá-los, mas eram muitos. Um deles mordeu a minha mão, seus<br />

dentes cortando a pele e penetrando profun<strong>da</strong>mente na carne. Eu quis gritar, mas<br />

eles estavam sobre o meu rosto, meus olhos, por to<strong>da</strong> parte. E, durante todo aquele<br />

tempo, podia ouvir Gideon rindo. Gargalhando! Um morcego tentou atingir a minha<br />

garganta com seus dentes horrorosos de vampiro. Pensei que fosse me matar. Eu<br />

não conseguia encontrar uma solução, mas, então, ouvi outro som. Mais gritos.<br />

Não, pios. Corujas! Elas vieram do na<strong>da</strong>, centenas delas, parecendo brilhar com luz<br />

própria, voando em meio a uma nuvem de morcegos, arrancando-os do céu. Mais e<br />

mais delas chegaram. Os morcegos pareciam aterrorizados e tentavam fugir, mas as<br />

corujas eram muitas e muito rápi<strong>da</strong>s. Então, pude ver Elizabeth de pé novamente,<br />

com o cajado erguido, coman<strong>da</strong>ndo as corujas.<br />

Finalmente, o céu voltou a ficar claro, e a luz do luar retornou. Enxuguei o<br />

sangue do rosto e arranquei do chão uma folha de erva, amarrando-a firmemente<br />

em torno <strong>da</strong> mão para estancar os ferimentos causados pelas dolorosas mordi<strong>da</strong>s<br />

dos morcegos.<br />

— Por que você está desperdiçando suas energias, Bess? — Gideon balançou<br />

a cabeça, como se estivesse repreendendo uma criança teimosa. — Você deve saber<br />

que eu jamais lhe teria <strong>da</strong>do poder suficiente para se tornar uma ameaça. Tenho<br />

mais instintos de preservação do que você imagina. Realmente acha que eu teria<br />

criado uma bruxa capaz de me matar?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!