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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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Eu não conseguia pensar em na<strong>da</strong> para dizer. Era como se ele estivesse<br />

olhando para dentro de mim, lendo tudo o que eu estava pensando. Como se<br />

estivesse brincando comigo agora, divertindo-se com o meu sofrimento.<br />

E então, de repente, Elizabeth apareceu. De pé, atrás dele. Não a ouvi<br />

chegar, não percebi nem o mais leve movimento, mas ali estava ela. Estava<br />

maravilhosa. Eu nunca a vira <strong>da</strong>quele jeito. Nunca vira ninguém <strong>da</strong>quele jeito. Ela<br />

estava usando um vestido verde, longo, com a barra bor<strong>da</strong><strong>da</strong> em ouro e as mangas<br />

também. Seus cabelos estavam soltos — nunca imaginara que fossem tão<br />

compridos. Eles esvoaçavam como se estivesse ventando, mas não estava. O ar<br />

estava completamente parado. Nenhuma folha se movia. Elizabeth brilhava.Seu<br />

corpo inteiro brilhava. Como se uma luz a iluminasse por dentro. Era como uma<br />

deusa <strong>da</strong> floresta. Ela trazia seu cajado em uma <strong>da</strong>s mãos e um punhal na cintura,<br />

aquele com a empunhadura preta.<br />

Gideon sabia que ela estava atrás dele. Sua expressão mudou. Não olhou ao<br />

redor, mas soube e se levantou muito devagar. Então, sorriu e soprou um beijo para<br />

mim. Desgraçado! Como se quisesse me lembrar de tudo o que havíamos feito. De<br />

tudo o que eu permitira que ele fizesse. Em segui<strong>da</strong>, começou a se transformar.<br />

Minha pele se arrepiou ao ver aquilo, mas eu não podia desviar os olhos. Logo ele se<br />

tornou o mesmo Gideon que eu vira no lago, com aqueles cabelos escuros e olhos<br />

sedutores. Não restava na<strong>da</strong> do meu Ian. Ele se fora. Completamente. Gideon virou<br />

as costas para mim. Elizabeth nem estremeceu ao ver seu rosto — devia estar<br />

esperando por aquilo.<br />

— Bess — disse ele, fazendo a última silaba do nome dela soar como o sibilar<br />

de uma cobra — ou você prefere Eliza? Elise? Elizabeth? — Ali estava aquele sorriso<br />

perigoso novamente.<br />

Elizabeth parecia mais alta do que o normal. Depois, eu pude ver que seus<br />

pés não tocavam o chão. Ela levitava a cerca de meio metro de altura, e aquilo a<br />

tornava muito mais alta que Gideon. Quando ela falou, sua voz estava diferente.<br />

Mais sonora, mas não áspera. Como um sino gigante que tivesse sido tocado e cujo<br />

som ain<strong>da</strong> ecoasse no ar.<br />

— Não importa como você escolha me chamar, Gideon. Sou sua nêmese. —<br />

Havia uma grande calma nela. Uma força que eu nunca vira.

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