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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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era mortal? O que aconteceria então? Cui<strong>da</strong>ria dele durante a velhice e depois<br />

seguiria em frente? Ela nunca estivera diante de tal situação. Gideon tinha<br />

contribuído para isso. To<strong>da</strong> vez que Eliza chegara perto de encontrar a felici<strong>da</strong>de, ele<br />

a tomava dela. Não importava onde ela estivesse, quantas vezes mu<strong>da</strong>sse sua<br />

aparência e seu nome, ele sempre a encontrava. Era apenas uma questão de tempo.<br />

Como poderia colocar alguém que amasse no encalço de tal perigo, de tamanho<br />

mal?<br />

Eliza soltou seus cabelos e escovou-os ritmicamente, lembrando como fazia<br />

o mesmo em Margaret, cujos cabelos brilhavam como a asa de um melro. Subiu na<br />

cama alta e estreita, desfazendo-se <strong>da</strong>s cobertas, pois a noite estava quase tão<br />

quente e abafa<strong>da</strong> quanto o dia havia sido. Caiu em um sono agitado. Um sono<br />

perturbado não tanto por sonhos, mas por memórias. Tantas memórias. Tantas<br />

vi<strong>da</strong>s que vivera. Tantas esquinas que dobrara, sempre na esperança de se livrar <strong>da</strong><br />

pessoa que a reivindicava. Aquele que nunca a deixaria ser livre. Em seus sonhos,<br />

apareceu o vulto fantasmagórico que notara observando-a, lembrando-lhe de que<br />

ela sempre veria a si mesma como a presa de um homem.<br />

O dia seguinte não estava mais fresco do que o anterior. Era um alívio que<br />

não houvesse alunos presentes na sala de cirurgia, pois a atmosfera estava féti<strong>da</strong> e<br />

desconfortável o suficiente apenas com os poucos que estavam em volta <strong>da</strong> mesa.<br />

Um homem de boa família, mas de péssima saúde, jazia diante do dr. Gimmel e de<br />

Eliza. Um dos alunos mais experientes, Roland Pierce, tinha sido escolhido para<br />

participar e ficou posicionado perto <strong>da</strong> cabeça do paciente, pronto para administrar<br />

mais clorofórmio, caso fosse necessário. A enfermeira Morrison ficou em frente ao<br />

médico. Entre eles, via-se uma ampla incisão que havia sido feita nas costas do<br />

paciente para permitir acesso a um rim que abrigava uma pedra enorme. Eliza<br />

observava maravilha<strong>da</strong> enquanto o médico curvava-se sobre o paciente para<br />

vasculhar a área abaixo <strong>da</strong> caixa torácica, delica<strong>da</strong>mente encontrando seu caminho<br />

até o órgão vital.<br />

— Aqui está — disse ele. — Ahá, sim... Em boas condições, exceto pela<br />

pedra. Bisturi, por favor, enfermeira Morrison. Obrigado. Agora, só precisamos de<br />

um pequeno corte... sim... e aqui... Maldição!<br />

Abruptamente, o médico parou de cortar. Assim que ele se endireitou, uma<br />

fonte vermelho-escura jorrou <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de abdominal. Em um segundo, ela se<br />

espalhou em leque, pulverizando a enfermeira com sangue arterial brilhante. Eliza

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