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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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Bess balançava a cabeça, cambaleando e gritando até ficar sem voz.<br />

Derrota<strong>da</strong>, ela se encolhia no canto, os braços sobre a cabeça, e aguar<strong>da</strong>va a morte.<br />

A primeira indicação para Bess de que ela estava de fato viva havia sido o<br />

som de um cântico. Era um ruído tão curioso e improvável que levou algum tempo<br />

para acreditar que estava acor<strong>da</strong><strong>da</strong> e ouvindo um som de ver<strong>da</strong>de, não um produto<br />

de sua mente febril. Abriu os olhos. Era dia. O fogo na lareira queimava<br />

silenciosamente. O sol de inverno entrava pela janela entreaberta. Percebeu as<br />

sombras de um movimento e descobriu que era capaz de virar um pouco a cabeça.<br />

Notou, então, que a música vinha de sua mãe. Anne estava de costas para Bess,<br />

tinha a cabeça coberta pelo seu xale e se encontrava diante <strong>da</strong> mesa <strong>da</strong> cozinha.<br />

Estava inteiramente concentra<strong>da</strong> em uma vela solitária que queimava à sua frente.<br />

Havia objetos que não eram familiares posicionados em torno <strong>da</strong> vela. Seus braços<br />

estavam levantados como em súplica, e seu corpo balançava ligeiramente de um<br />

lado para o outro enquanto ela continuava a cantar repeti<strong>da</strong>mente as notas graves e<br />

monótonas. Bess não conseguia discernir as palavras. Elas pareciam estranhas,<br />

como se de alguma língua estrangeira. Certamente era uma canção que nunca<br />

ouvira a mãe cantar. A melodia, se é que poderia ser chama<strong>da</strong> assim, era misteriosa<br />

e dissonante, mas estranhamente hipnótica. De repente, como se sentisse que<br />

estava sendo observa<strong>da</strong>, sua mãe deixou cair os braços para os lados e ficou em<br />

silêncio. Ela parou por um momento, depois apagou a vela e se virou.<br />

Bess engasgara quando percebera que o cabelo de sua mãe tornara-se<br />

completamente branco. Nenhuma mecha doura<strong>da</strong> permanecera. O efeito fazia com<br />

que Anne parecesse uma déca<strong>da</strong> mais velha do que há apenas alguns dias. Bess<br />

esforçava-se para se apoiar sobre um cotovelo quando sua mãe se apressou até ela.<br />

— Bess! Pronto, fique quieta, minha pequena. Está tudo bem. — disse,<br />

ajoelhando-se ao lado <strong>da</strong> cama baixa. Tocou o rosto <strong>da</strong> <strong>filha</strong> e sorriu, o primeiro<br />

sorriso que Bess viu no rosto de sua mãe desde o dia <strong>da</strong> colheita de maçãs.<br />

— Mãe, o que aconteceu com você? Seu cabelo...<br />

— Não tem importância. O que importa agora é que você está bem, Bess.<br />

Você está bem. — Ela apertou a mão <strong>da</strong> <strong>filha</strong>.<br />

— Mas como? — Bess sentou-se, examinando os braços e as mãos,<br />

procurando em seu rosto por caroços ou inchaços, por sinais <strong>da</strong> desfiguração que o<br />

restante <strong>da</strong> família desenvolvera. Não havia na<strong>da</strong>.

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