14.04.2017 Views

A filha da feiticeira - Paula Brackston

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

218<br />

— O que, estes trapos velhos? Que utili<strong>da</strong>de eles terão para você?<br />

— Não importa. Basta dizer que aceita trocar.<br />

Connie estendeu a mão e tocou o tecido leve. Seu rosto iluminou-se ao<br />

deslizar os dedos sobre os detalhes bor<strong>da</strong>dos na cintura.<br />

— Vamos em frente, então — disse ela. — Nem imagino por que você quer,<br />

mas, sim, vou aceitar a troca.<br />

— Mais uma coisa... — Eliza afastou o vestido <strong>da</strong> menina. — Hoje você deve<br />

ir direto para casa. Entendeu? Na<strong>da</strong> de trabalho. Direto para casa. Promete?<br />

— Está bem. — Connie deu de ombros e concordou. — Prometo.<br />

Em uma hora, vestindo as roupas surra<strong>da</strong>s, mas chamativas de Connie, com<br />

os cabelos presos embaixo de um chapéu florido, Eliza estava passeando pelas ruas<br />

mais escuras de Whitechapel, a chuva escorrendo rápi<strong>da</strong> pelo seu xale. Caminhava<br />

lentamente, à espera, ouvindo, sabendo que ele iria encontrá-la. Ela não precisou<br />

esperar muito tempo.<br />

Assim que dobrou em uma estreita rua sem saí<strong>da</strong>, pôde claramente ouvir<br />

passos às suas costas. Passou por um gato que se agachou ao vê-la. Ele miou quando<br />

o homem que a seguia aproximou-se ain<strong>da</strong> mais. Eliza chegou ao fim do beco sem<br />

saí<strong>da</strong> e se virou, mantendo a cabeça abaixa<strong>da</strong>, escondendo o rosto na escuridão sob<br />

a aba do chapéu. Um vulto solitário parou apenas alguns passos à frente dela. A<br />

chuva estava tépi<strong>da</strong>, mas incessante, enlameando as ruas. E fazia um som<br />

inquietante, implacável, como o silvo de uma centena de cobras raivosas. A<br />

distância, o barulho de cascos podia ser ouvido enquanto um cabriolé passava<br />

apressado sobre os paralelepípedos. Em algum lugar, o som de um piano e de<br />

bêbados cantando ecoava no ar <strong>da</strong> noite. Com a cabeça baixa, Eliza podia ver<br />

apenas os pés de seu perseguidor, os sapatos bem-engraxados, o tecido fino <strong>da</strong>s<br />

calças, a bainha de sua capa de se<strong>da</strong>. E sua bengala preta, com a tampa de prata<br />

refletindo em uma poça pela luz fraca de um lampião a gás nas proximi<strong>da</strong>des.<br />

A voz de Gresseti era inconfundível.<br />

— Boa-noite, signorina. Tem tempo disponível para entreter um cavalheiro<br />

esta noite?<br />

Eliza fechou os olhos. Havia chegado o momento. Parecia apropriado que ela<br />

tivesse escolhido enfrentar Gideon finalmente naquela<br />

noite. Walpurgisnacht. Samhain. Dia <strong>da</strong>s Bruxas. Durante as horas de escuridão, na

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!