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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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— Mas você ain<strong>da</strong> mantém alguma sensibili<strong>da</strong>de. Deve ter. De que outra<br />

forma saberia... sobre mim?<br />

— Eu teria de ser cego para não ver que você é uma pessoa<br />

ver<strong>da</strong>deiramente extraordinária, Bess. A luz irradia de você. Uma energia poderosa.<br />

— Ela é poderosa, certamente. Embora esse poder nem sempre seja uma<br />

força pela qual eu seja grata. — Virei-me e estudei as chamas do fogo baixo. O calor<br />

consumira uma tora de aveleira e expunha um velho prego de cobre, de forma que<br />

línguas de cor verde <strong>da</strong>nçavam por entre as chamas de cor laranja. — Algumas<br />

vezes, eu me sinto amaldiçoa<strong>da</strong>. Quando deixo que os “e se” se revirem dentro de<br />

mim. E se eu tivesse sido capaz de salvar minha mãe de algum modo? O que poderia<br />

ter acontecido se eu tivesse sido forte o suficiente para resistir a Gideon? Poderia<br />

ter levado uma vi<strong>da</strong> simples, com um marido, uma família, uma casa onde viver e<br />

amar e me sentir segura? — Fechei os olhos por um breve instante, mitigando a dor<br />

familiar. Quando os abri de novo, percebi o quão fortemente minhas palavras<br />

haviam afetado Archie. — Sinto muito — disse eu. — Não devo ficar melancólica.<br />

Não aqui. Não agora. Suponho que eu esteja me deixando levar por esses<br />

pensamentos por sua causa. Porque, de alguma forma, sei que você me entenderá.<br />

Porque você entende um pouco do que é ser...<br />

— Diferente?<br />

— Sim, mas não só isso. Mais do que isso. Ser ligado a alguma outra coisa, a<br />

algo maravilhoso e, ain<strong>da</strong> assim, não pertencer completamente ao outro lado<br />

também. Como se estivéssemos suspensos entre dois mundos.<br />

Archie concordou.<br />

— Eu sei, meu amor — disse ele suavemente. — Eu sei. Mas não é de todo<br />

mal, é? — Ele se inclinou para a frente, com os olhos brilhando de curiosi<strong>da</strong>de e<br />

admiração. — Digo, o que eu tinha, o que era capaz de fazer, era especial, sim, mas<br />

era insignificante comparado ao que você pode fazer, ao que você é. Compreendo o<br />

que você diz sobre estar só, realmente compreendo. E parte meu coração pensar<br />

em você, por todos esses anos, sem ninguém ao seu lado, sem ninguém em quem<br />

confiar, com quem compartilhar seus dons e sua vi<strong>da</strong>. Isso é muito duro, Bess. Mas,<br />

bem, há a magia!<br />

Eu sorri, seu entusiasmo pueril melhorando meu humor.<br />

— Sim — concordei. — A magia é esplêndi<strong>da</strong>. Sentir a magia correndo nas<br />

veias, sentir meu ser habitado por ela de forma tão plena, mente, corpo e alma;

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