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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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tão impotente quanto se sentira ao lado de seu irmão. E de seu pai. E de sua irmã.<br />

Como poderia não fazer na<strong>da</strong> quando tinha o poder de salvá-la?<br />

Sentou-se na beira <strong>da</strong> cama e forçou-se a falar claramente.<br />

— Abigail, você é minha paciente, e eu não vou deixá-la morrer, está me<br />

ouvindo?<br />

Abigail sorriu.<br />

— Você me proíbe, doutora?<br />

— Proíbo absolutamente.<br />

— Então, é claro, não devo. Permitir-se morrer sob cui<strong>da</strong>do tão diligente<br />

quanto o seu seria falta de educação, não concor<strong>da</strong>?<br />

— Concordo. Agora, você deve descansar. Vou visitar o boticário no hospital<br />

e retornar ain<strong>da</strong> hoje. E vou enviar uma enfermeira.<br />

— Uma bem gentil, por favor.<br />

— Uma bem brava — disse Eliza —, para manter você em sua cama, srta.<br />

Astredge. — Ela se levantou, prendendo os lençóis ao redor <strong>da</strong> garota. — Durma.<br />

Essa é a minha recomen<strong>da</strong>ção.<br />

— Muito bem, doutora. — Abigail fechou os olhos, já começando a cair no<br />

sono. — Serei uma boa paciente e vou fazer o que me pede.<br />

Naquela noite, Eliza voltou para seus aposentos com o coração pesado.<br />

Inventara uma poção para Abigail que lhe <strong>da</strong>ria força e teve o prazer de vê-la um<br />

pouco mais anima<strong>da</strong> na hora do chá, mas não havia como escapar do fato de que a<br />

cirurgia seria desastrosa para ela em seu estado atual. O nevoeiro mal havia<br />

levantado durante o dia e agora engrossava novamente ao anoitecer. O mercado<br />

estava sendo varrido, e Eliza passou por entre verduras podres descarta<strong>da</strong>s e lixo. A<br />

música do tocador de realejo flutuava pela escuridão estranhamente distorci<strong>da</strong> e<br />

abafa<strong>da</strong> pelo tempo. O homem que acendia as lâmpa<strong>da</strong>s estava descendo de sua<br />

esca<strong>da</strong> no poste em frente à casa <strong>da</strong> sra. Garvey, quando Eliza sentiu seu estômago<br />

revirar. Ela parou, esforçando-se para ouvir com mais cui<strong>da</strong>do. No início, pensou<br />

que sua mente perturba<strong>da</strong> estava lhe pregando uma peça, mas, quanto mais ouvia,<br />

mais terrivelmente real tornava-se o som que chegava aos seus ouvidos. A música<br />

que fluía através do ar congestionado era inconfundível. Eliza correu em direção a<br />

sua origem, esbarrando em outras pessoas sem se importar e ignorando seus gritos.

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