14.04.2017 Views

A filha da feiticeira - Paula Brackston

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

111<br />

suave silvo e estalo do fogo, e o pio esporádico de uma coruja atrás <strong>da</strong> casa. Depois<br />

de mais duas horas, esses sons foram aumentados pelo barulho irregular do ronco<br />

do conselheiro Wilkins. Bess moveu-se com dificul<strong>da</strong>de, sabendo que não corria<br />

perigo de cair no sono, mesmo que estivesse exausta pela ansie<strong>da</strong>de dos últimos<br />

dias. As velas queimavam lentamente, sugerindo que o amanhecer logo colocaria<br />

um fim àquela noite ridícula. Então, primeiro discretamente, mas logo ganhando<br />

volume, sons puderam ser ouvidos. Sons de arranhados. Kilpeck retesou-se em sua<br />

cadeira. O reverendo franziu a testa e olhou ao seu redor. Os barulhos de<br />

arranhados continuaram e pareciam vir <strong>da</strong> porta que levava à leiteria. Assim que<br />

Bess convencera a si mesma de que não era na<strong>da</strong> além de um rato faminto, os sons<br />

mu<strong>da</strong>ram para bati<strong>da</strong>s e a porta podia ser vista chacoalhando no batente.<br />

— Deus nos salve! — sussurrou a senhora Pritchard.<br />

To<strong>da</strong> a sala manteve os olhos fixos na porta. Até o conselheiro Wilkins foi<br />

sacudido de seu cochilo pelo barulho.<br />

Então, as bati<strong>da</strong>s passavam a ser acompanha<strong>da</strong>s por gritos estranhos e<br />

uivos. O reverendo Burdock começou a rezar. O conselheiro Wilkins fez um<br />

movimento para se levantar, mas Kilpeck deteve-o com a mão.<br />

— Não se mexa! — instruiu ele.<br />

Os uivos ficaram mais altos. Eram diferentes de todos os sons que Bess tinha<br />

ouvido antes em to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong>, algo entre o ganido dos filhotes de cães e o<br />

balbuciar dos bebês. A velha Mary choramingou e forçou as cor<strong>da</strong>s que a prendiam<br />

à sua cadeira. Seus olhos se arregalaram quando a trava de madeira <strong>da</strong> porta do<br />

galpão começou a levantar, aparentemente por conta própria. Mesmo com tudo<br />

isso, Anne não se mexeu.<br />

Bess prendeu a respiração quando a porta se abriu lentamente. A princípio,<br />

não conseguiu ver na<strong>da</strong>; então, formas baixas e curva<strong>da</strong>s saíram <strong>da</strong> escuridão do<br />

outro quarto e deslizaram para a luz. Naquele momento, a respiração de Bess viera<br />

com um engasgo de horror. As criaturas claramente não eram nasci<strong>da</strong>s de qualquer<br />

animal <strong>da</strong> Terra de Deus. Eram quatro no total, to<strong>da</strong>s aproxima<strong>da</strong>mente do<br />

tamanho de texugos, mas seus corpos eram curvados e sinuosos como grandes<br />

doninhas. Cobertos com o que parecia um pelo áspero, tinham também uma pele<br />

como a dos sapos. Seus olhos eram úmidos e sem brilho, e a saliva escorria de suas<br />

bocas frouxas e desdenta<strong>da</strong>s. As aberrações rastejaram para a frente, seus

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!