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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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— Sim, dra. Hawksmith, acredito que tenha assinado em sua primeira manhã<br />

conosco. — O sr. Thomas lambeu o dedo e folheou as páginas do registro em sua<br />

mesa. — Sim, como eu pensei. Aqui está. — Ele virou o livro e apontou para o nome<br />

de Gresseti escrito com um elegante floreio.<br />

— Pode me emprestar por um momento, sim? — Eliza levou o livro para a<br />

outra sala antes que o sr. Thomas pudesse perguntar por que ela o queria. Ela<br />

fechou a porta e sentou-se à mesa do dr. Gimmel. Após um momento de hesitação e<br />

contendo sua inquietação sobre o que estava prestes a fazer, Eliza começou a<br />

procurar nas gavetas. Minutos depois, segurava a carta de apresentação do Instituto<br />

de Milão. Parecia ter sido escrita e assina<strong>da</strong> pelo professor Salvatores, mas a<br />

caligrafia combinava exatamente com aquela que estava no registro. A carta<br />

provavelmente fora escrita pelo próprio Gresseti. Suas credenciais eram falsas. Eliza<br />

estava certa disso. Claro, havia uma pequena chance de o professor ter pedido para<br />

que Gresseti escrevesse a carta para poupar trabalho; mas, nesse caso, ele<br />

certamente pediria para um escrivão do Instituto fazê-lo. Eliza se recostou na larga<br />

cadeira de couro. Sempre suspeitara de Gresseti, mas tinha ficado quieta, pois as<br />

referências dele eram impecáveis, e ela não tinha na<strong>da</strong> a temer além de sua<br />

grosseria. Agora, porém, as coisas eram diferentes. Se sua carta de apresentação era<br />

falsa, então eles não sabiam na<strong>da</strong> sobre ele. Quem se <strong>da</strong>ria ao trabalho de forjar<br />

uma correspondência para ter acesso ao hospital? Um cirurgião rival? Alguém<br />

enviado para avaliar as capaci<strong>da</strong>des do dr. Gimmel? Enquanto a mente de Eliza<br />

fervilhava com as possibili<strong>da</strong>des, ela viu uma bengala no cabide de guar<strong>da</strong>-chuvas. A<br />

bengala preta de ponta pratea<strong>da</strong> de Gresseti. O som que tinha ouvido no beco atrás<br />

de sua clínica lhe voltou à mente. O som feito por alguém escondido nas sombras. O<br />

som que a tinha assustado na noite do assassinato de Martha. Eliza correu até a<br />

bengala e a pegou. Era mais pesa<strong>da</strong> do que ela esperava, a madeira quente sob seus<br />

dedos, a ponta pratea<strong>da</strong> fria. Ela a sacudiu levemente e ouviu um chocalhar fraco,<br />

uma pequena vibração na mão. Era oca. Definitivamente, havia algo dentro. Devia,<br />

portanto, ter uma tampa removível. Ela estava a ponto de levantá-la quando a porta<br />

se abriu e Gresseti entrou. Quando viu a bengala nas mãos de Eliza, ele parou e<br />

franziu a testa; então, rapi<strong>da</strong>mente reorganizou suas feições e sorriu<br />

educa<strong>da</strong>mente, os olhos permanecendo indiferentes ao sorriso.<br />

— Ah, dra. Hawksmith, voltei por causa <strong>da</strong> minha bengala, e a senhorita já a<br />

encontrou. Veja como um homem pode ser esquecido quando não tem uma esposa<br />

para discipliná-lo. — Ele estendeu a mão e gentilmente tomou a bengala de Eliza. —<br />

Muito obrigado. Até mais tarde... — Tocou o chapéu em cumprimento e foi embora.

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