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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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confusão e a angústia no rosto de Tegan, que ela jamais tivera a intenção de que nós<br />

dois passássemos qualquer tempo juntos. Ela não queria que esses aspectos<br />

importantes e difíceis de sua vi<strong>da</strong> se fundissem. Percebi isso naquele momento, mas<br />

era tarde demais. Invadira um espaço em que não era deseja<strong>da</strong>, e, fosse razoável ou<br />

não o meu motivo, Tegan ficara furiosa comigo.<br />

— Olhe, na<strong>da</strong> disso é <strong>da</strong> sua conta, está bem? Você não é minha mãe. Você<br />

não é na<strong>da</strong> minha, na ver<strong>da</strong>de; então, mantenha seu nariz esquisito de bruxa longe<br />

<strong>da</strong>qui! — Ela voltou para o interior do barco, batendo a porta.<br />

— Parece que ela prefere ficar comigo — disse ele.<br />

Ele se virou como que para ir atrás dela. Eu não suportava a ideia de Tegan<br />

sozinha com aquela criatura.<br />

— Espere! — chamei por ele. Ele parou e olhou para mim, as sobrancelhas<br />

ergui<strong>da</strong>s em dúvi<strong>da</strong>. Lambi os lábios secos e ergui meu bastão. — Se você machucar<br />

essa garota, vai se ver comigo.<br />

— Machucar? — Ian parecia genuinamente intrigado. — Sou louco por ela.<br />

Por que iria machucar Tegan?<br />

Na ver<strong>da</strong>de, não sei o que me fez dizer tal coisa. Mesmo para mim, soou<br />

estranho e desnecessário.<br />

Houve um momento de silêncio total. Sob seu olhar, minha respiração ficou<br />

presa na garganta.<br />

Um par de patos pousou ruidosamente atrás do barco, interrompendo o<br />

momento. Vi quando vieram pela água com um respingo de penas e grasnando.<br />

Quando olhei para trás, Ian estava fechando a porta <strong>da</strong> cabine atrás de si.<br />

12 de setembro — lua cheia<br />

Fiz o que pude para ser razoável sobre as minhas reações a Ian. Ele não dera<br />

nenhum motivo para duvi<strong>da</strong>r de seus sentimentos em relação a Tegan e, ain<strong>da</strong><br />

assim, tenho dúvi<strong>da</strong>s. Será que todos esses anos de perseguição, de olhar por cima<br />

do ombro, de fugir do terror do meu passado, deixaram-me incapaz de enxergar<br />

racionalmente o perigo? Perdi a minha intuição de <strong>feiticeira</strong>, que deveria me<br />

permitir detectar o perigo, ser alerta<strong>da</strong>, sem confundir os sinais? Não sou mais<br />

capaz de encontrar um estranho solitário sem instantaneamente me sentir

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