14.04.2017 Views

A filha da feiticeira - Paula Brackston

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

179<br />

Capítulo 2<br />

Já passava <strong>da</strong>s dez horas quando Eliza finalmente encontrou a paz do seu<br />

quarto em cima <strong>da</strong> clínica. Jantou algo leve e só queria cair na cama. Tirou a roupa,<br />

ficando apenas de combinação e anágua, e sentou-se por um momento na<br />

penteadeira ao lado <strong>da</strong> janela. Ela nunca conseguiu se sentir confortável em um<br />

espartilho e o considerava uma <strong>da</strong>s piores mo<strong>da</strong>s que já tivera de suportar. No<br />

espelho, seu reflexo cansado olhou para ela. Por mais gratificante que fosse aju<strong>da</strong>r<br />

aquelas que não tinham recursos para cui<strong>da</strong>dos médicos e por mais que gostasse de<br />

seu trabalho no Fitzroy, ao fim de ca<strong>da</strong> dia, estava sempre cansa<strong>da</strong>. Não eram<br />

somente as longas horas de labuta que a esgotavam. Era a falta de companhia em<br />

sua vi<strong>da</strong>. Há muito tempo aceitara que nunca poderia ter filhos. Estava convicta de<br />

que sua imortali<strong>da</strong>de a tornara estéril. Muitos anos se passaram até conseguir<br />

aceitar isso totalmente, mas sabia que, na ver<strong>da</strong>de, era uma bênção. Como poderia<br />

criar filhos somente para vê-los envelhecer e morrer enquanto ela continuava sua<br />

jorna<strong>da</strong> sem fim? Não, ela acabou entendendo que não havia nascido para ser mãe.<br />

Além disso, tinha seus pacientes para nutrir e cui<strong>da</strong>r. Muitos deles eram, de fato,<br />

como crianças sem mãe, sozinhas e sem amor no mundo. Era parte do dom de Eliza<br />

ajudá-los, e ela o fazia de boa vontade. Mas sentia falta de seus próprios familiares.<br />

Mesmo depois de tantos anos, a dor de suas mortes e o vazio que deixaram em sua<br />

vi<strong>da</strong> não diminuíram. E quanto a um homem para amar, alguém para abraçá-la, para<br />

fazê-la sentir-se viva, sentir-se mulher e não uma criatura anormal... Ela tivera<br />

amantes, é claro, mas Eliza aprendeu a não se deixar envolver profun<strong>da</strong>mente.<br />

Como poderia ficar com um homem, ser sua esposa, sua alma gêmea? Quanto<br />

tempo levaria até que ele percebesse que ela não poderia lhe <strong>da</strong>r filhos e que não

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!