14.04.2017 Views

A filha da feiticeira - Paula Brackston

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

148<br />

mais e mais forte. Ela repetiu os versos três vezes, conforme Gideon a instruíra, com<br />

medo de que a qualquer momento as nuvens pudessem lhe roubar os raios <strong>da</strong> lua.<br />

Mas isso não aconteceu. Ela falou a última sílaba do último verso e esperou. Na<strong>da</strong><br />

aconteceu. Na<strong>da</strong> para impedir a profanação implacável de seu corpo. Na<strong>da</strong> para<br />

mascarar os ruídos repulsivos que vinham do carcereiro bêbado. Tudo fora uma<br />

fantasia? Ela realmente tinha que se submeter àquilo e, em segui<strong>da</strong>, sofrer o<br />

tormento de ser queima<strong>da</strong> viva? Bess fechou os olhos e formou mais uma palavra.<br />

Ela usou todo o ar que havia em seu corpo para gritá-la.<br />

— Gideon!<br />

De súbito, a sala ficou sobrenaturalmente imóvel. Até Baggis parou. A<br />

distância, Bess pôde ouvir um gemido alto que cresceu e ganhou força até que se<br />

tornou um rugido ensurdecedor. A luz suave <strong>da</strong> lua foi substituí<strong>da</strong> por um brilho<br />

ofuscante. O carcereiro olhou ao seu redor, em pânico, e depois de volta para Bess.<br />

Ele gritou aterrorizado, lutando para fugir dela, caindo para trás em sua pressa de<br />

separar-se.<br />

— Bruxa! — gritou ele. — Bruxa!<br />

Com o homem imundo fora do caminho, a luz pulsante envolveu Bess. O<br />

barulho era aterrorizante agora, como o grito de guerra de mil regimentos ou o<br />

rugido de uma centena de dragões lutando. A boca de Baggis estava escancara<strong>da</strong><br />

em gritos que não podiam ser percebidos em meio à cacofonia. Bess podia sentir o<br />

poder fluindo através de seu corpo. Eliminando a dor, estancando o sangue e<br />

recompondo seus ossos quebrados. Ela se levantou, sentindo-se leve e livre<br />

enquanto as correntes de suas algemas se rompiam. Agora entendia. Entendeu o<br />

êxtase do poder. Sua beleza. Sua glória. Sua satisfação sensual. Todo o seu ser<br />

brilhava e reluzia com ele. Ela olhou para o homem encolhido no canto <strong>da</strong> cela.<br />

Como o jogo havia virado rápido! Dessa vez foi ela quem levantou a mão. Baggis<br />

cobriu a cabeça com os braços, choramingando. Bess queria testar sua força, queria<br />

se vingar, sentir, pela primeira vez em sua vi<strong>da</strong>, o que realmente significava ser<br />

aquela que possuía o poder. Sabia que poderia esmagá-lo como uma formiga sob<br />

seus pés, se desejasse. Ela começou a levitar, flutuando em direção à janela.<br />

— Misericórdia! — gritou Baggis.<br />

Bess baixou a mão lentamente.<br />

— Você terá exatamente a misericórdia que merece — disse a ele,<br />

apontando um dedo na direção de sua virilha.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!