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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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Meu pai já se foi, infelizmente. Sinto sua falta terrivelmente, assim como minha<br />

mãe. Ela nunca deixará Glencarrick. Suponho que isso seja parte <strong>da</strong> razão para o<br />

lugar significar tanto para nós dois — era onde ele estava. Onde ele está. Enfim,<br />

minha mãe é uma pessoa realmente singular. Ela foi cria<strong>da</strong> em Edimburgo, mas se<br />

mudou para as Highlands, onde foi apresenta<strong>da</strong> a meu pai. Eles se amaram desde o<br />

momento em que se conheceram. — Ele parou e sorriu para mim, e então<br />

continuou. — Acho que meu pai soube imediatamente que havia algo diferente<br />

nela. Ele não se importava. Ele a aceitava exatamente como ela era. Embora<br />

houvesse gente na família que a julgasse um pouquinho... esquisita. Mas logo ela se<br />

estabeleceu em Glencarrick e todos a adoraram. Eles foram bem receptivos aos<br />

seus... talentos incomuns. — Ele bebeu outro gole de vinho. — O fato é que minha<br />

mãe é uma médium. Ela não faz segredo disso, não dá desculpas ou explicações. Ela<br />

simplesmente tem uma habili<strong>da</strong>de para se comunicar com os espíritos que<br />

passaram para o além, como diz. Nunca tive medo disso, nem mesmo quando<br />

criança. Cresci em meio a sessões mediúnicas e com estranhos aparecendo na porta,<br />

pedindo a aju<strong>da</strong> de minha mãe para entrar em contato com seus entes queridos que<br />

se foram. Ela nunca man<strong>da</strong>va ninguém embora. Quando eu era bem pequeno ain<strong>da</strong>,<br />

com cerca de 8 ou 9 anos, suponho, minha mãe enxergou algo em mim também. Eu<br />

tinha o dom. Foi ela quem primeiro notou quando eu falei sobre o garotinho que me<br />

visitava to<strong>da</strong>s as noites. Meu pai acreditava serem sonhos ou um amigo imaginário.<br />

Suponho que ele não estava disposto a admitir que havia outro membro “esquisito”<br />

na família, não a princípio. Mas minha mãe logo soube que meu amigo era um<br />

espírito. Um fantasma, se preferir. Ele foi o primeiro de muitos. Depois disso, passei<br />

a me encontrar regularmente com todo tipo de pessoas nas horas de escuridão. A<br />

maioria delas vivera em Glencarrick em alguma época. Às vezes, eu aju<strong>da</strong>va minha<br />

mãe a contatar os parentes e amigos <strong>da</strong>s pessoas. Como disse, isso nunca me<br />

assustou. Éramos simplesmente assim.<br />

Ele parou de falar quando monsieur Henri chegou com os pratos fumegantes<br />

de cassoulet.<br />

— Ma<strong>da</strong>me, aqui está. Espero que aprecie sua refeição.<br />

— O cheiro está maravilhoso — disse eu.<br />

— Tenente Carmichael, bon appétit.<br />

— Obrigado, Albert.

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